No nosso 8º encontro o tema principal foi a respiração. Realizamos atividades para experimentar o contato consciente com o respirar para perceber como o movimento é afetado e pode fluir, ou não, conforme inspiramos e expiramos.
Após a dinâmica de aquecimento com Roda de Nomes e jogos de integração, passamos para as atividades com a respiração. O primeiro exercício foi ficar em pé, com os pés bem apoiados no chão, fechar os olhos e focar a atenção na respiração. Ficamos alguns instantes nessa posição. A partir daí, experimentamos, sempre de olhos fechados, transferir o peso do corpo para as pontas dos pés, respira e volta para o centro. Depois transferir o peso para o calcanhar, respira e volta para o centro. Depois o mesmo para a direita e esquerda. Sempre com muita calma e deixando o movimento acontecer através da respiração. Ao final levamos o peso outra vez para as pontas dos pés e realizamos um círculo fazendo a transferência de peso: frente, direita, trás, esquerda, frente. Depois de alguns círculos, para um lado e para o outro, voltamos ao centro e permanecemos na posição neutra.
A partir dessa posição inicial, ainda de olhos fechados, vamos deixando que a respiração comece a gerar movimento no corpo. Primeiro o movimento apenas do busto, que sobe e desce ao inspirar e expirar. Depois deixar esse movimento se ampliar e reverberar por todo o corpo, pelos braços, tronco, cabeça e pernas. Ao inspirar, podemos subir nas pontas dos pés. Ao expirar, voltamos a enraizar nossos pés no chão. Os braços acompanham o movimento de maneira bem suave e fluida. O corpo todo, como um balão, se expande ao inspirar e se recolhe ao expirar. Deixamos que essa dinâmica cresça no corpo até que apareçam movimentos bem amplos. A partir daí, podemos também andar e nos deslocar pelo espaço, continuando essa jornada, sempre respeitando o ritmo da respiração e deixando que ele desenhe nossos movimentos. Depois ainda, podemos brincar com a respiração, mudando propositadamente seu ritmo e força, para gerar outros ritmos e várias dinâmicas de gestos: rápido, lento, soquinhos, suspensões, ataques, pausas, câmera lenta. Ao final, vamos diminuindo e voltamos bem devagar para a posição neutra inicial, acalmando o respirar.
Na seqüência, passamos para o exercício do véu. Essa proposta nasceu das experiências dos grandes mestres da mímica Jacques Copeau e Etienne Decroux. Eles acharam que os atores deveriam usar o corpo todo para expressar suas emoções, ao invés de focar a interpretação no rosto e nas mãos. Então propuseram que o rosto fosse coberto para focar os movimentos globais do corpo, principalmente do peito e do tronco. Assim a expressão seria mais íntegra e verdadeira.
Da mesma maneira, propomos que o grupo experimentasse essa forma de expressão. Separamos quatro integrantes por vez, os restantes seriam observadores. Cada um dos quatro cobriu o rosto todo com o véu. Eles deveriam deitar no chão e entrar em contato com a respiração, deixando que ela mobilizasse qualquer movimento. A partir daí, eles deveriam levantar e explorar o espaço ao redor como se tudo fosse novo e eles estivessem conhecendo o mundo pela primeira vez. Ao final, suavemente vão fazendo o caminho de volta até deitar e cessar os movimentos.
Essa dinâmica revela coisas muito preciosas: o poder da respiração de criar um outro tempo; a capacidade de abrir espaço para novas experiências em relação a coisas já conhecidas; a respiração como condutora da ação; o estado físico e emocional de concentração e calma; as imagens fortes que o corpo revela sem precisar de “caretas” ou expressões estereotipadas com o rosto e mãos. Cada um tem uma nova percepção dos próprios gestos e movimentos e da sua capacidade de comunicar imagens, sensação e estados interiores. Temos a nítida impressão que o corpo cresce e toma formas inéditas, nunca experimentadas. Assim, continuamos nossa jornada no sentido de dilatar o corpo e ocupar plenamente nosso espaço.
Na seqüência, formamos subgrupos de quatro pessoas para que fosse criada uma cena, usando os recursos já aprendidos da mímica. O grupo teria 15 minutos para criar e ensaiar sua cena, que deveria ter começo, meio e fim. A proposta principal foi de que, durante o processo de criação da cena, tudo deveria ser aceito obrigatoriamente. Cada idéia surgida deveria ser aceita e receber um SIM. “Vamos ser cachorros amarelos famintos?” A resposta do grupo deve ser SIM. E, a partir desse SIM, propor novas possibilidades para desdobrar a primeira imagem e continuar criando a história.
Foi muito interessante testemunhar como o grupo está em um nível de entrosamento mais profundo e confiante. Todos se empenharam desde o começo na criação, usando o corpo e experimentando as possibilidades. Acima de tudo, havia alegria e diversão durante todo o tempo. Pareciam crianças brincando. A energia corporal aos poucos vai sendo fortalecida, proporcionando confiança e sensação de liberdade, diminuindo a autocrítica, o que necessariamente gera prazer e alegria. Em 15 minutos, vários mundos foram criados, soluções criativas, inusitadas e divertidas.
Depois do intervalo, fizemos o improviso individual com música e novamente tivemos dois belos presentes. A Carla usou lindamente a música “Oração” da Banda Mais Bonita da Cidade, corporificando imagens repletas de afeto, carinho, alegria, suavidade, liberdade, devoção, alegria. O fato de ela ter expandido o corpo no espaço e preenchido a sala com tanta intensidade, necessariamente afetou todos os presentes, contagiando e emocionando cada um de uma forma diferente e singular.
Logo a seguir a Sabrina fez algo especial também nesse sentido, ritualizando sua relação tão particular com a música, com o piano, com a dança e com o ballet. Ela criou um acontecimento vivo e real de descoberta e redescoberta da sua dança própria, a dança que realmente faz sentido para a sua vida e para o seu corpo. A emoção e alegria dessa descoberta era tão plena e visível que também contaminou a todos. Ela, de alguma forma, naquele exato momento, conquistou uma liberdade a mais e estava emocionada por isso.
Isso tudo reforça a nossa crença de que a maior colaboração para a comunidade, para o coletivo, surge da plena expansão da nossa expressão singular, do nosso corpo, do nosso desejo, do nosso pensamento. Fazendo isso, necessariamente afetamos tudo à nossa volta de maneira positiva, contagiando e estimulando a todos para seguir o caminho do seu próprio desejo. Um professor, ou qualquer profissional, cheio de entusiasmo pelo seu trabalho, com certeza é um estímulo vivo, um verdadeiro mestre da sua arte.
Veja todas as fotos do dia clicando aqui. As fotos são de Angela Sassine.
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