No nosso 10° encontro, pudemos aprofundar a integração e confiança que já está estabelecida no grupo há algum tempo. Por isso, o aquecimento foi um pouco diferente. Demos uma atenção especial ao toque, feito de maneira suave e sensível. Nessa dinâmica, uma pessoa por vez se coloca deitada no chão, de barriga para cima, com pernas e braços esticados e relaxados. Os demais participantes colocam-se ao redor formando um círculo. No primeiro momento, todos vão fazer uma massagem suave no corpo dessa pessoa. Sugerimos que todos se preparem, concentrem-se e decidam juntos quando iniciar o toque, sem precisar de uma voz de comando.
Após um breve momento dessa massagem, o grupo deve suspender pernas, braços e cabeça do parceiro, tendo o cuidado de apoiar os joelhos e cotovelos. A pessoa do centro deve relaxar e soltar o peso do corpo, confiando nos parceiros. Então o grupo vai criando movimentos com as pernas, braços e cabeça, de maneira suave e cuidadosa, dando atenção para criar movimentos novos, surpreendendo a pessoa que recebe, e evitando que ela resista e conduza o movimento. Enquanto isso acontece, a pessoa do centro deve contar uma história e falar sem parar. Não pode parar de falar. Ao final, todos devem pousar os membros do parceiro no solo com cuidado e finalizar com uma breve massagem. A pessoa que recebeu o trabalho deve então espreguiçar sem pressa, virar-se de lado e ir subindo devagar, cuidando para que a cabeça seja a última coisa a ficar ereta. Esse trabalho é interessante porque desafia o participante a entregar o peso do corpo com confiança e sem resistência. Às vezes, mesmo inconscientemente, há uma vontade de controlar e conduzir o movimento. A tarefa de contar uma história sem parar também desafia a pessoa a desconectar dessa vontade de controle para entrar no fluxo e confiar no acolhimento e no movimento do grupo. Como o grupo já se conhece há algum tempo, todos estavam bem mais relaxados e dispostos a participar com confiança e alegria. O toque pode ser um assunto delicado, mas também é assunto importante no processo educativo. Aprender a oferecer e receber um toque amistoso é um recurso importante para a saúde, para o bem-estar, para a sociabilidade, para a sensação de pertencimento ao grupo. Também é importante para ter a inteligência afetiva minimamente madura e saber quando um eventual toque pode ser dissimuladamente nocivo e agressivo. Para uma boa aula sobre educação e afetividade, sugiro o vídeo “Children Full of Life” (clique aqui).
A seguir fizemos uma dinâmica de andar pela sala estabelecendo encontros. A cada encontro, uma pessoa, depois a outra, oferecem ao parceiro uma pequena dança, uma seqüência de movimentos. Ao final se despedem e seguem o caminho para outros encontros.
Depois disso, fizemos uma seqüência de experimentações para perceber como o corpo pode moldar nosso pensamento e atitudes. O exercício era caminhar pelo espaço projetando uma parte do corpo para a frente. Fizemos isso várias vezes, a cada vez projetando uma parte. Primeiro a testa. Anda-se com a testa alongada para a frente. Aos poucos procuramos perceber que tipo de sensação e de idéias sugere essa postura e esse andar. Aí inventamos um som para essa figura. Andamos e fazemos um som. A seguir verbalizamos que tipo de pensamentos essa figura teria. Começamos a falar em voz alta esses pensamentos. E então começamos a estabelecer encontros e diálogos entre esses “seres de testa para a frente”. Como é esse encontro? Qual é a dinâmica da relação? Ao fim, relaxamos e andamos normalmente. Aí discutimos em grupo que tipo de atitude essa figura transmite.
Repetimos toda essa dinâmica para outras partes do corpo: nariz, queixo, peito, barriga, pélvis, joelhos, pés. A cada vez, fazemos a seqüência projetando uma parte do corpo, como se ela fosse a primeira parte a passar por uma porta. Quando projetamos a testa, pode aparecer uma sensação de teimosia, “cabeça dura”, nervoso, sério, preocupado, entre outras. Quando projetamos o nariz, a sensação que normalmente aparece é de bisbilhoteiro, xereta, interessado em saber de tudo, curioso, etc. Ao projetar o queixo, a atitude inspirada é de orgulho, arrogância, prepotência, despeito. Projetando o peito para a frente sentimos auto-confiança, às vezes exagerada, confronto, desafio, certa arrogância, etc. Ao projetar a barriga, a sensação vem ligada à fome, preguiça, lentidão, sono, entre outras. Ao projetar a pélvis, a atitude assume conotação sexual, interesse em encontros, busca de parceiros, sedução, etc. Projetando os joelhos, a sensação é de “pisar em ovos”, cuidado, atenção, entre outras. Finalmente, ao projetar os pés, a atitude pode ser de descontração, “cuca fresca”, leveza, etc. É importante ressaltar que essas imagens listadas acima são apenas algumas das que podem aparecer, ou que são as mais comuns. Dependendo da pessoa, da história de vida e do nível de tensão muscular, essas imagens podem variar. Por exemplo: ao projetar os pés para a frente, se fizermos isso com muita tensão muscular, a sensação pode ser de atitude militar, autoridade e rigidez. Às vezes, ao assumir uma determinada postura, imediatamente lembramos de alguém ou algum personagem significativo, e então assumimos toda a configuração corporal dessa pessoa, chegando a imitá-la com detalhes, indo além de simplesmente colocar a atenção numa só parte do corpo.
Depois de experimentar essa dinâmica como um estudo de movimento, fizemos improvisos em duplas, para que organizar essas imagens em ação. Pedimos que duas pessoas por vez fossem ao palco para improvisar seus personagens. Um deveria projetar o peito para a frente, o outro o nariz. E assim, fomos criando duplas de personagens que se colocavam em situação e improvisavam uma história. Era visível a mudança de atitude ao se mudar a postura corporal. Criaram-se situações muito divertidas!
Depois do intervalo, voltamos a realizar o improviso individual com música. O participante deve trazer uma música que gosta e que toca sua emoção de maneira especial e, a partir daí, improvisar uma dança pessoal, tendo o grupo como platéia e testemunha. Tivemos a alegria de compartilhar momentos mágicos com o Jairo, que improvisou sobre a música “Camarada D´Água” do grupo Teatro Mágico. Foi muito tocante perceber a alegria e descoberta real de novas possibilidades acontecendo naquele exato momento no corpo do Jairo. Ele relatou ao final que não foi uma dança, foi um desabafo. É notável a diferença de atitude desse nosso companheiro. No início do trabalho ele era mais sério e reservado. Agora está muito mais relaxado, sorrindo frequentemente, e brincando com alegria com todos do grupo.
A seguir a Sarita dançou lindamente a música “Samba e Leveza”, do Lenine. Foi especial ver uma outra mulher surgindo ali, confiante e desenvolta, um pouco mais distante da timidez com que normalmente recebíamos a Sarita. Fechou a coreografia saindo com elegância.
Após isso, fizemos um improviso em grupos. Cada grupo deveria criar uma música e uma coreografia livremente. Houve uns 10 minutos para preparar e ensaiar. O resultado foi muito divertido para todos. Essa é mais uma dinâmica para reforçar a idéia de que não é preciso, necessariamente, seguir padrões de beleza. Cada um pode criar sua própria dança, aquela que faça sentido para seu pensamento e para a sua vida. Que lhe inspire alegria, liberdade, expansão e poesia. Isso sempre será contagiante.
Finalizamos o encontro com um presente da Ana Silvia, uma roda de Jongo. A dinâmica em roda é sempre especial para integração do grupo e é uma ótima opção para terminar nossa jornada do dia.
Estávamos aquecidos e relaxados, apesar do frio que fazia lá fora. Já todos prontos para o último encontro com o Fuganti, um novo debate de idéias com a Escola Nômade de Filosofia.
Veja todas as fotos do dia clicando aqui. As fotos são de Angela Sassine.
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