quarta-feira, 25 de maio de 2011

Depoimento da Geralda


A EXPANSÃO DO EU



Esse sábado (21 de maio) foi tudo diferente. Saí de casa meio com preguiça e sem muita vontade de encarar quase duas horas de viagem pra chegar à Oficina Cultural Oswald de Andrade. No caminho fui pensando: “bem que hoje poderia ser bem lúdico, com muita dança e muita música, estou com vontade de dançar...”
Fui a primeira a chegar e havíamos mudado de sala devido a um evento acontecendo lá na oficina. Parece que a Silvana tinha lido meu pensamento já que praticamente começamos a oficina com todo mundo dançando. Depois tivemos que escolher um par. Isso de escolher um par é muito interessante, porque a gente está andando pelo espaço e tem que escolher alguém, normalmente o encontro se dá, a gente para na frente da pessoa e eu nunca sei se escolhi ou fui escolhida, já que tudo se passa muito rapidamente e com a comunicação através de gestos e olhares, mas muito intensa. Eu e o Léo acabamos nos escolhendo. O exercício foi o seguinte: um dançava e o outro tinha que ser o diretor. O Léo começou e ele dança muito bem, na vez dele foi uma música clássica. Quando chegou a minha vez, foi um samba. Logo eu que nunca sambei na vida! Mas resolvi encarar, pensei na personagem Rita Baiana de “O cortiço”, especialmente na que foi feita pela Betty Faria e sambei, fiz caras e bocas sob a direção do Léo e alguma ajuda da Silvana. Depois todos dançamos em roda e cada um tinha que mostrar o que sabia.
Depois a Silvana propôs que nos deitássemos, nos encolhêssemos e ocupássemos o menor espaço possível e nesse momento, ouvindo a música, fôssemos começando a nos expandir lentamente, como se uma membrana no envolvesse, e que entrássemos em contato com nosso desejo.
Eu adotei a posição fetal. Não consegui ver o restante do grupo, mas tenho a intuição que a maioria também adotou a mesma posição. Naquela posição, ouvindo a música, me veio uma enorme vontade de chorar. Eu queria explodir e gritar, mas fiquei ali quietinha tentando entender o que eu sentia. Eu me perguntava: O que quero? Qual o meu desejo?” Eu me sentia presa, como se houvesse algo me prendendo na região do abdômen e eu tinha vontade de gritar que queria ser livre. Eu dizia a mim mesmo que era livre, mas só conseguia gritar por liberdade. A sensação era fortíssima e eu só conseguia chorar. Pensei que quem estava me prendendo era eu mesma  e que podia me soltar. Fui me soltando com medo daquela sensação, mas me libertando aos poucos.
O último exercício foi muito forte e intenso. A gente tinha que correr e depois de aquecido gritar expandindo o corpo. Foi uma experiência muito intensa pra todos que participaram. Para mim foi como se todo meu mundo tivesse se expandido. No dia seguinte peguei o carro e fui pra estrada, sem medo de dirigir. Senti até vontade pintar as unhas de vermelho!

Geralda Aparecida Dias

7º encontro - relato e fotos

Hoje tivemos um dia especial e bastante intenso. O tema foi a expansão. Experimentamos a expansão do corpo-voz-pensamento-emoção. Começamos aquecimento dançando ao som de uma música animada. Dessa forma, vamos saindo do corpo cotidiano, despertando o movimento e entrando no estado de corpo criativo, onde cada um vai descobrindo o caminho que faz sentido para o seu desejo e sua alegria. Aos poucos a dança individual vai tomando a sala e afetando o movimento de todos. 




Em seguida, realizamos um exercício em duplas, onde um deveria ser o “dançarino” e o outro o “diretor”. Dessa forma, enquanto um parceiro realiza sua dança pessoal, o diretor vai estimulando, provocando, indicando caminhos que ele identifica como os mais interessantes e que merecem mais atenção e expansão. Isso traz uma nova consciência sobre como o próprio movimento afeta os outros corpos que estão em relação criativa. 




A seguir fizemos uma grande roda e, ao som de uma música, um por vez deveria tomar o centro da roda realizando a sua dança particular, com o estímulo de toda a roda. É muito claro como a energia do grupo todo vai se dilatando com alegria contagiante.





Na seqüência, fizemos o que chamamos de “jornada”. Iniciamos deitados no chão, com o corpo o mais fechado possível. Deve-se imaginar o corpo todo envolvido numa membrana elástica. Essa jornada é toda direcionada ao som de músicas especialmente selecionadas. Elas devem começar sutilmente e crescer devagar até chegar a um nível de intensidade estimulante o suficiente para provocar o máximo de expansão. A partir da posição inicial fechada, deve-se vagarosamente se colocar em movimento, empurrando e afastando a membrana do corpo para que ela se amplie cada vez mais, até ocupar toda a sala e até atravessar os limites da sala. Aos poucos o corpo vai tomando espaço, saindo do chão e ficando em pé, sempre dançando. Nesse caminho os olhos se abrem e também dilatamos nosso poder de olhar e irradiar nossos sentimentos através dos olhos. Aos poucos, naturalmente, relações vão acontecendo entre os participantes, que começam a criar coreografias juntos, como se moldassem o espaço entre os corpos, como faria um escultor. Ao final a música é bem ritmada e forte, intensificando ainda mais os movimentos. De repente paramos a música e congelamos o movimento. A partir daí, a dança deve ser feita em câmera lenta, muito devagar, para corporificar e conscientizar a sensação de vibração que flui pelo corpo. Fazer essa dança em duplas também revela imagens muito belas e intensas. 







Com essa energia toda mobilizada, entramos no nosso exercício principal do dia, que chamamos de UAU! O grupo todo se coloca bem unido no centro da sala. Um por vez, deve correr em círculos em volta do grupo. Ao sinal, ele deve parar em frente a todos e expandir seu corpo ao máximo, alongando as pernas, braços, coluna, rosto todo aberto e gritar com força: UAU! mantendo a boca aberta ao final, olhos bem aberto. Essa posição deve ser sustentada ao máximo, enquanto a pessoa passa seu olhar para cada membro do grupo. Repete-se o UAU! mais uma vez e sustenta. Ao final, vai abaixando os braços e normalizando o rosto, sem abandonar a energia do UAU!. Passeia-se pela sala, experimentando essa sensação de expansão. Depois volta e escolhe alguém do grupo para manter contato com o olhar e oferecer um gesto ou uma pequena dança de presente. 





Esse exercício é extremamente forte e revelador. É a vivência prática de máxima expansão, do que podemos com o nosso corpo e, muitas vezes não temos consciência, ou nunca tivemos a oportunidade de experimentar. Vivemos normalmente com o corpo restrito, restringido pelos espaços e pelas relações cotidianas. Raramente nos permitimos ocupar nosso devido espaço. Raramente nos permitimos dançar de verdade. Ao fazer esse exercício, é comum sentir o corpo todo tremer, ou formigar, ou vibrar. A pessoa pode ficar sinceramente surpresa com o que acontece. Ela se surpreende com a sua força, com a sua própria vida em fluxo no corpo, com suas emoções. Pode surgir vontade de chorar, ou de gargalhar, ou de gritar. É uma oportunidade de dar boas-vindas às emoções e deixá-las se expressar. Ao completar seu ciclo, a emoção naturalmente se dissolve e se transforma. É vida fluindo. Confiar no corpo, confiar na emoção, confiar na intuição é uma abertura para maior liberdade e maior sentido de viver. Gera autonomia, autoconfiança e melhor autoestima. Esse exercício deve ser coordenado por um profissional capacitado e com formação adequada para conduzir com sensibilidade, inspirar confiança e acolher as reações com compaixão, afetuosidade e firmeza.







Aproveito e sugiro assistir o documentário Children Full of Live, que mostra a experiência de educação emocional do professor japonês Toshiro Kanamori. É muito tocante a sabedoria desse mestre em acolher as sensibilidades dos seus alunos.

Terminamos o dia numa alegre roda de ciranda.

Uma boa semana a todos, com muito UAU! todos os dias!



Veja todas as fotos do dia  clicando aqui. As fotos são de Angela Sassine.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Crianças Repletas de Vida

No documentário Children Full of Life, uma classe da quarta série de uma escola primária em Kanazawa, no noroeste de Tóquio, aprende lições sobre a compaixão de seu professor Toshiro Kanamori. Ele pede a cada um para escrever seus verdadeiros sentimentos em uma carta e ler em voz alta na frente da classe. Ao partilhar suas vidas, as crianças começam a perceber a importância de cuidar de seus colegas. (legendas em inglês)

Parte 1

Parte 2: http://www.youtube.com/watch?v=Oc7S8HAfDzk

Parte 3: http://www.youtube.com/watch?v=jd7YWx7idfE
Parte 4: http://www.youtube.com/watch?v=OEW65OKRiAk
Parte 5: http://www.youtube.com/watch?v=5FGdXEBcdh4

Ken Robinson: Escolas matam a criatividade?

Parte 1
Parte 2

Depoimento da Professora Amanda Gurgel

 

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Vídeo da Palestra "Corpo e Educação" com Luiz Fuganti

No dia 14 de maio tivemos a segunda palestra com o filósofo Luiz Fuganti, com o tema "Corpo e Educação". Veja abaixo o vídeo com a cobertura completa.


6º encontro - Relato


No nosso 6º encontro, trabalhamos novos elementos técnicos de mímica, para reforçar e ampliar a consciência dos movimentos e dar novas possibilidades de relação com o próprio corpo. O poder de criar imagens e concretizar pensamentos e idéias com corpo é fascinante. Libera a imaginação e a criatividade, pois é possível criar novos mundos, novas relações com o espaço, quebrando limites e restrições. Essa sensação fica marcada no corpo pela experiência concreta de realizar a ação.

Começamos o encontro com a dinâmica em roda com bola. O jogo simples de jogar a bola para outro parceiro da roda ganhou novos elementos. Enquanto transcorre o jogo, uma bolinha de tênis deve ser passada de mão em mão em sentido horário e outra bolinha deve circular no sentido anti-horário. Agora a necessidade de concentração é mais exigida, ao mesmo tempo que a atenção deve ser ampliada para responder a estímulos que chegam a partir de várias direções. A conexão entre o grupo se fortalece.

A seguir realizamos o exercício em duplas de espelho. Após um momento fazendo o exercício básico, foi proposto que o espelho fosse realizado a partir da mímica, manipulando objetos imaginários. Dessa forma, podemos dar atenção ao estudo do gesto e também ganhar novos entendimentos a partir da lógica dos gestos do parceiro, que devem ser seguidos e espelhados com precisão. Também realizamos o espelho a partir da idéia de estátua, movimentando uma articulação somente por vez.

Na seqüência, realizamos um jogo em duplas, onde um parceiro deve realizar uma ação cotidiana ao mesmo tempo em que fala o que está fazendo: “Eu estou .... e você, o que está fazendo?” – Por exemplo: “eu estou escovando os dentes. E você o que está fazendo?” Logo em seguida o outro parceiro deve fazer o mesmo, passando a bola imediatamente para o companheiro, e assim sucessivamente. O objetivo é realizar o exercício de maneira bem dinâmica, sem dar tempo para parar e pensar. A pergunta serve para colocar pressão no parceiro e pode ser repetida diversas vezes caso ele não responda rapidamente. Dessa forma vamos experimentando dar expressão à primeira idéia, confiando no nosso poder de criatividade. Outra versão desse jogo é feita quando um parceiro fala a ação que está fazendo, porém é o outro parceiro que realiza essa ação com o corpo.

Após esses jogos, demos início à prática de elementos da mímica. A partir de um andar estilizado, chamado de 1º andar, começamos várias dinâmicas do gesto de EMPURRAR. O 1º andar é realizado com as pernas afastadas, alternando o peso do corpo que hora está sobre uma das pernas e hora está sobre a outra perna. Enquanto o peso está sobre a perna direita, seu calcanhar está levantado. Usamos todo o peso do corpo para abaixar o calcanhar e logo a seguir transferir o peso para a outra perna e reiniciar o processo do lado esquerdo. Depois de se acostumar com esse movimento, acrescentamos movimentos com braços e mãos de empurrar para as laterais, seguindo a direção em que está o peso do corpo. É importante imaginar que há uma resistência do ar nesse empurrar, que exige uma certa tensão e vibração do movimento do braço. Depois podemos variar as direções de empurrar: para baixo, para cima e cruzado na frente do corpo.

Empurrar e puxar um objeto imaginário é um grande estudo de movimento e consciência corporal. Onde apoiamos o peso do corpo? Que perna está esticada? Como estão os braços? Como agem os cotovelos? Para realizar esse estudo, primeiro treinamos na parede real, tentando empurrá-la. Aí estudamos como o nosso corpo realiza esse movimento. Podemos verificar que normalmente uma perna fica atrás e outra na frente. A perna de trás fica bem esticada e o pé todo fica apoiado no chão. A perna da frente fica dobrada e o calcanhar fica levantado.  O peso do corpo está totalmente apoiado na perna de trás. Depois desse estudo, tentamos realizar o mesmo movimento, agora sem contar com a parede real. Verificamos que, para dar a idéia clara de que há um peso a ser empurrado (imaginário) temos que nos colocar na mesma posição: perna esticada atrás e perna dobrada à frente com calcanhar levantado. Porém o peso do corpo se inverte. A perna da frente é que deve apoiar totalmente o peso do corpo. A perna de trás está livre, sem peso. É uma situação de equilíbrio precário, muito diferente do que estamos acostumados no cotidiano. Isso é que dá a imagem e a ilusão de força. Para o movimento de PUXAR é a mesma coisa, porém com as pernas ao contrário. A perna da frente está esticada com o pé apoiado no chão e a perna de trás dobra com o calcanhar levantado.

Para exercitar esses movimentos, brincamos de imaginar um piano e tentar arrastá-lo ou puxá-lo pelo espaço. Depois fizemos a brincadeira do cabo de guerra usando uma corda imaginária. Dois grupos, um de cada lado devem lutar para puxar o cabo de guerra. Os dois times devem coordenar os movimentos para manter a relação de distância da corda. O grupo de divertiu muito com esse jogo.

A seguir introduzimos o conceito clássico de mímica que é a parede imaginária. De novo, treinamos primeiro com a parede real, tocando-a de diversas formas para estudar o movimento de maneira detalhada. Como a mão toca a parede? Que parte toca primeiro? Como ficam os dedos? Que parte sai da parede primeiro? Como age o pulso? Qual a diferença de tônus? Depois treinamos sem a parede para concretizar a experiência. Descobrimos que é importante dar atenção a todos os pequenos detalhes que, no cotidiano, realizamos de maneira automática e passam desapercebidos.  

Para explorar todos esses novos elementos, reunimos a turma em vários grupos, de 3 a 4 integrantes, e pedimos para criar uma cena em que eles utilizassem essas dinâmicas e conceitos da mímica. Deve ser uma situação simples, algo cotidiano, que tenha começo, meio e fim. As cenas que surgiram foram muito interessantes e divertidas. Podemos observar como o corpo em movimento logo se coloca em fluxo criativo e as imagens brotam de maneira fértil. E a alegria toma conta de todos, contagiando e estimulando a participação de cada um. As cenas foram muito bem organizadas, estavam claras e limpas. Objetos surgiam e pareciam reais. Elevador, vassoura, corda, tijolos, ferramentas. Tudo isso criado a partir do nada, ou melhor, a partir do próprio corpo e sua potência de criação.

Esses conceitos da mímica – empurrar, puxar, o contato com a parede – além de serem uma dinâmica lúdica e um recurso expressivo valioso, também trazem a possibilidade de elaboração poética, coletiva, corporal e afetiva das nossas experiências de vida. O que empurramos pela vida? Como engajamos nosso corpo e nossa vida ao enfrentar os obstáculos? Como empenhamos em puxar e trazer o que queremos? Quais as paredes que se colocam no nosso caminho? Como nos relacionamos com elas? Ao experimentar isso concretamente no corpo, estamos mais aptos e fortalecidos para enfrentar também os obstáculos reais da nossa vida.

Após o intervalo, voltamos a realizar o exercício individual de improviso inspirado numa música. Fernanda e Silmara nos trouxeram uma expressão ampliada de alegria e festa. Ambas se jogaram inteiramente na proposta, sem pudor. O efeito dessa atitude foi contagiante em todo o grupo. Descobrimos novas facetas de cada uma. Fernanda trazia movimentos amplos, alegres e leves. Particularmente, seu movimento de girar era muito bonito e forte. Silmara brincou e se divertiu também, surpreendendo a todos. Ao final foi interessante o comentário da Angela, nossa fotógrafa, que estava filmando a cena. Ela disse que teve que olhar duas vezes para o visor da câmera e para a cena, pois, por um instante, pensou que era outra pessoa que estava fazendo o exercício.

Terminamos numa roda de ciranda, integrando a alegria de estar conectado no grupo.

Quando o corpo se põe em movimento e abraça a vida, e afirma o desejo, ele se amplia, se dilata e revela expressões inéditas. Ele cria realidade. Somos outra pessoa realmente. Descobrimos novas forças, novos talentos, novos pensamentos, novos afetos, novas possibilidades. A vida se recria. E isso é contagiante.

6º encontro - Fotos

Fotos do nosso 6º encontro. Trabalhamos elementos da mímica para consciência corporal. Empurrar, puxar e parede imaginária. As fotos são de Angela Sassine. Veja todo o álbum de fotos clicando aqui 





















quarta-feira, 11 de maio de 2011

Convite Palestra com Luiz Fuganti - Corpo e Educação

Convidamos a todos os interessados para participarem da 2ª palestra com as provocações do nosso amigo e filósofo Luiz Fuganti, da Escola Nômade de Filosofia.
Palestras de Filosofia com Luiz Fuganti 
Tema: "Corpo e Educação"
dia 14 de maio - sábado, às 18h 
Entrada Gratuita (não é necessário fazer inscrição)

LOCAL
Oficina Cultural Oswald de Andrade
Rua Três Rios, 363 - Bom Retiro (próx metrô Tiradentes)
São Paulo/SP

5º encontro - Relato


Nosso 5º encontro foi sobre o tema da confiança. A atividade que eu havia preparado não era exatamente essa, mas a dinâmica do grupo levou naturalmente a aprofundar esse assunto e tudo correu de maneira muito fluida. Cada exercício encaminhava para o próximo e a energia do grupo foi ficando cada vez mais coesa.

No teatro, o ator deve estar com a percepção aguçada e aberta para sentir o que a platéia necessita naquele exato momento, e assim dosar sua energia e suas dinâmicas. Acredito que o professor também tem essa sabedoria de saber “ouvir” o que seus alunos necessitam no momento e ter a liberdade de corrigir a rota em pleno vôo. Confiar na vida e seguir o fluxo com o mínimo de resistência. Essa foi nossa experiência do dia.

Começamos com nossa tradicional roda de nomes, para estabelecer o momento de encontro e reforçar ainda mais o nome de cada pessoa. Dessa vez, no entanto, usamos uma bola para lançar ao companheiro enquanto se fala o seu nome. Logo em seguida fizemos um exercício também com a bola. Com o grupo espalhado pelo espaço, devemos lançar a bola de uma pessoa a outra apenas dando um toque com a mão, sem segurá-la ou parar o jogo. O objetivo é não deixar a bola cair no chão. Todos contam juntos: 1, 2, 3, 4... até a bola cair. Quando ela cair, recomeçamos a contagem do número 1. Jogos lúdicos são sempre interessantes para descontrair e criar integração no grupo.

A seguir realizamos um exercício em duplas. Sem tocar no corpo do companheiro, os dois juntos devem procurar ir preenchendo os espaços vazios no corpo do companheiro, criando uma “dança” juntos. É importante manter a calma e realizar movimentos lentos, sem pressa, para ir encontrando um fluxo natural de gestos que harmonicamente vão criando seu caminho. Aqui já é possível identificar sinais de ansiedade ou resistência em se entregar ao fluxo orgânico.

Na seqüência realizamos outro exercício em duplas, agora com contato. Começando de costas um para o outro, os parceiros dever apoiar o seu peso sobre o corpo do companheiro, de forma que o equilíbrio esteja sempre compartilhado entre os dois corpos. A partir daí, devem ir criando movimentos para encontrar outras possibilidades de manter o contato e o equilíbrio compartilhado. Essa atividade já exige um grau maior de disponibilidade de entrega e confiança no parceiro. Os dois são responsáveis por dar apoio e inspirar sensação de confiança ao companheiro.

Continuando, realizamos o exercício do “João Bobo”. O grupo permanece em roda bem fechada e alguém se coloca no centro. Essa pessoa do centro deve permanecer com o corpo ereto e rígido, sem dobrar o corpo em nenhum ponto e com os pés juntos e fixos no lugar. Ele fecha os olhos e entrega o peso do seu corpo para que os companheiros da roda o segurem. Então a roda vai apoiando, sustentando e deslocando o corpo do companheiro para vários pontos do círculo, como se fosse um João Bobo. É importante que todos na roda estejam bem enraizados, na posição de “samurai” ou “sentar no cavalo”, com as pernas afastadas e joelhos dobrados. Dessa forma eles transmitem confiança à pessoa que está no centro. Esse exercício requer já um grande grau de confiança no grupo e é possível identificar que tem mais disponibilidade para aceitar e se entregar sem medo.

Na seqüência realizamos vários exercícios onde o grupo deve trabalhar de olhos fechados. Na primeira atividade, em duplas, um parceiro fecha os olhos e o outro o conduz para um passeio andando pela sala, apenas mantendo contato através da ponta do dedo indicador de cada um. Quem está conduzindo deve manter-se muito atento e cuidar para que não haja trombadas e assim inspirar total confiança no parceiro. Depois invertem o condutor e conduzido para que os dois passem pelas duas experiências. A seguir, realizamos o mesmo exercício, mas agora sem nenhum contato físico. O condutor deve indicar a direção apenas dizendo o nome do seu parceiro que, ainda de olhos fechados, vai se deslocando pela sala tendo como referência apenas a voz do seu companheiro. Isso vai aumentando a exigência de confiança e destemor. Sugiro que esse exercício termine num abraço, que inspira acolhimento e cuidado.

Depois colocamos duas marcas num canto da sala, afastadas mais ou menos um metro e meio uma da outra. Um por vez, cada membro do grupo deveria cruzar a sala na diagonal em linha reta, de olhos fechados, procurando chegar exatamente entre as marcas. Uma pessoa fica atrás da chegada para acolher o parceiro e delimitar o fim do trajeto. É possível também propor que o trajeto seja percorrido correndo. Nesse exercício, é visível a resistência que temos no corpo em termos de entrega. Em muitos casos, o corpo desacelera e freia muito antes de alcançar o ponto de chegada, mesmo sabendo que há alguém para marcar o ponto de finalização.

Logo após, solicitamos que todos fechassem os olhos e andassem pela sala num ritmo que sentissem que fosse confortável e seguro, caso esbarrassem em outra pessoa. Deve-se andar tranquilamente, sem colocar os braços à frente. É interessante porque, no início ocorrem várias “trombadas” e a maioria se sente um pouco perdida. Mas conforme o exercício continua, as pessoas começam a exercitar outras formas de percepção, como o sons de passos, as vozes, os sons da rua, o deslocamento e a temperatura do ar quando se aproximam de outra pessoa, e aí os movimentos se tornam mais harmoniosos e diminuem os esbarrões. Isso requer maior grau de concentração e contato com as próprias sensações, uma escuta aprimorada do próprio corpo, e conseqüente confiança nessas sensações.

Para terminar essa seqüência, colocamos uma música e convidamos todos a dançarem pelo espaço também de olhos fechados, colocando em ação essas novas formas de percepção. É estimulante notar como estão mais tranqüilos, mais enraizados e mais entregues ao fluxo. Esse fluxo é indicado pela música, mas também pelas sensações físicas, pelo corpo, pela vida que está vibrando entre os corpos e preenchendo a sala toda. A seguir fizemos uma roda para comentar as percepções de cada um.

Aqui acredito ser importante enfatizar alguns comentários. É muito importante que o corpo experimente na prática situações que inspirem confiança, como os exercícios que foram realizados com o grupo. Cada vez que se passa pelo exercício, a experiência vai sendo reforçada e ganhamos também em autoconfiança. Por outro lado, todos têm histórias de vida que em algum momento foi marcada por situações difíceis, que inspiraram medos, desconfianças, recolhimentos. Isso tudo fica marcado no corpo como um mecanismo de defesa que naturalmente tem medo de repetir a experiência negativa. Acredito que não devemos brigar com essas resistências, elas tiveram a sua função de proteção. É mais produtivo aceitá-las e acolhê-las, para passar a reforçar agora experiências afirmativas. Pode haver grande rigidez, medo e resistência, o que gera uma primeira impressão de dificuldade de contato e até de agressividade. O desafio é encontrar uma brecha onde ainda há uma centelha de vida vibrando, mesmo que frágil, para colocarmos ali o nosso foco e, muito pacientemente, ir afirmando essa parte para que ela se fortaleça e se expresse de maneira cada vez mais potente. Para isso, é preciso afinar a sensibilidade e verdadeiramente olhar para aquele ser, para ter a possibilidade de criar maneiras efetivas de cativá-lo, maneiras essas que sempre serão singulares, personalizadas e únicas. O professor também é um criador, um poeta, um artista do seu ofício.

Após o intervalo, voltamos a fazer o exercício individual de improviso baseado numa música que seja significativa para o participante. Cada um é convidado a trazer a sua música. Ele deve entrar em cena, se colocar em posição e deixar seu corpo fluir naturalmente a partir dos estímulos da música, criando uma dança pessoal. Essa dança não necessita de referências, não precisa ser certinha, nem seguir nenhum modelo. O importante é que ela faça total sentido para quem a executa, que traga prazer e alegria, que liberte os afetos e emoções criando imagens através do movimento. O grupo assiste cada performance e depois comenta.

Tivemos a grande alegria de testemunhar três apresentações que foram verdadeiros presentes. Todas extremamente vibrantes, cheias de energia e prazer. Essa vitalidade colocada em movimento é altamente contagiante. Os companheiros que assistiam relataram, animados, a vontade de também se lançar ao movimento imediatamente.

Percebeu-se assim, de maneira muito prática, na ação, que quando alguém toma posse da sua vida por inteiro, quando se permite dilatar e vibrar o corpo com alegria, isso necessariamente estimula os demais a fazer o mesmo. Expressar o meu melhor convida a todos a expressarem também o seu melhor. Acredito que essa seja uma atitude política das mais eficazes. Afirmando a minha alegria, meu corpo e os meus talentos, eu mostro que isso é possível e contagio os demais a seguirem também os seus mais vibrantes desejos de vida.

Terminamos numa roda onde cada um deveria criar um som. Um de cada vez foi somando seu som ao anterior até toda a roda criar uma grande sinfonia, tornando concreta a música que já estava, de alguma maneira, vibrando na sala.

5º encontro - Fotos

Fotos do nosso 5º encontro. Trabalhamos o tema da confiança. As fotos são de Angela Sassine. Veja todo o álbum de fotos clicando aqui