Hoje tivemos um dia especial e bastante intenso. O tema foi a expansão. Experimentamos a expansão do corpo-voz-pensamento-emoção. Começamos aquecimento dançando ao som de uma música animada. Dessa forma, vamos saindo do corpo cotidiano, despertando o movimento e entrando no estado de corpo criativo, onde cada um vai descobrindo o caminho que faz sentido para o seu desejo e sua alegria. Aos poucos a dança individual vai tomando a sala e afetando o movimento de todos.
Em seguida, realizamos um exercício em duplas, onde um deveria ser o “dançarino” e o outro o “diretor”. Dessa forma, enquanto um parceiro realiza sua dança pessoal, o diretor vai estimulando, provocando, indicando caminhos que ele identifica como os mais interessantes e que merecem mais atenção e expansão. Isso traz uma nova consciência sobre como o próprio movimento afeta os outros corpos que estão em relação criativa.
A seguir fizemos uma grande roda e, ao som de uma música, um por vez deveria tomar o centro da roda realizando a sua dança particular, com o estímulo de toda a roda. É muito claro como a energia do grupo todo vai se dilatando com alegria contagiante.
Na seqüência, fizemos o que chamamos de “jornada”. Iniciamos deitados no chão, com o corpo o mais fechado possível. Deve-se imaginar o corpo todo envolvido numa membrana elástica. Essa jornada é toda direcionada ao som de músicas especialmente selecionadas. Elas devem começar sutilmente e crescer devagar até chegar a um nível de intensidade estimulante o suficiente para provocar o máximo de expansão. A partir da posição inicial fechada, deve-se vagarosamente se colocar em movimento, empurrando e afastando a membrana do corpo para que ela se amplie cada vez mais, até ocupar toda a sala e até atravessar os limites da sala. Aos poucos o corpo vai tomando espaço, saindo do chão e ficando em pé, sempre dançando. Nesse caminho os olhos se abrem e também dilatamos nosso poder de olhar e irradiar nossos sentimentos através dos olhos. Aos poucos, naturalmente, relações vão acontecendo entre os participantes, que começam a criar coreografias juntos, como se moldassem o espaço entre os corpos, como faria um escultor. Ao final a música é bem ritmada e forte, intensificando ainda mais os movimentos. De repente paramos a música e congelamos o movimento. A partir daí, a dança deve ser feita em câmera lenta, muito devagar, para corporificar e conscientizar a sensação de vibração que flui pelo corpo. Fazer essa dança em duplas também revela imagens muito belas e intensas.
Com essa energia toda mobilizada, entramos no nosso exercício principal do dia, que chamamos de UAU! O grupo todo se coloca bem unido no centro da sala. Um por vez, deve correr em círculos em volta do grupo. Ao sinal, ele deve parar em frente a todos e expandir seu corpo ao máximo, alongando as pernas, braços, coluna, rosto todo aberto e gritar com força: UAU! mantendo a boca aberta ao final, olhos bem aberto. Essa posição deve ser sustentada ao máximo, enquanto a pessoa passa seu olhar para cada membro do grupo. Repete-se o UAU! mais uma vez e sustenta. Ao final, vai abaixando os braços e normalizando o rosto, sem abandonar a energia do UAU!. Passeia-se pela sala, experimentando essa sensação de expansão. Depois volta e escolhe alguém do grupo para manter contato com o olhar e oferecer um gesto ou uma pequena dança de presente.
Esse exercício é extremamente forte e revelador. É a vivência prática de máxima expansão, do que podemos com o nosso corpo e, muitas vezes não temos consciência, ou nunca tivemos a oportunidade de experimentar. Vivemos normalmente com o corpo restrito, restringido pelos espaços e pelas relações cotidianas. Raramente nos permitimos ocupar nosso devido espaço. Raramente nos permitimos dançar de verdade. Ao fazer esse exercício, é comum sentir o corpo todo tremer, ou formigar, ou vibrar. A pessoa pode ficar sinceramente surpresa com o que acontece. Ela se surpreende com a sua força, com a sua própria vida em fluxo no corpo, com suas emoções. Pode surgir vontade de chorar, ou de gargalhar, ou de gritar. É uma oportunidade de dar boas-vindas às emoções e deixá-las se expressar. Ao completar seu ciclo, a emoção naturalmente se dissolve e se transforma. É vida fluindo. Confiar no corpo, confiar na emoção, confiar na intuição é uma abertura para maior liberdade e maior sentido de viver. Gera autonomia, autoconfiança e melhor autoestima. Esse exercício deve ser coordenado por um profissional capacitado e com formação adequada para conduzir com sensibilidade, inspirar confiança e acolher as reações com compaixão, afetuosidade e firmeza.
Aproveito e sugiro assistir o documentário Children Full of Live, que mostra a experiência de educação emocional do professor japonês Toshiro Kanamori. É muito tocante a sabedoria desse mestre em acolher as sensibilidades dos seus alunos.
Terminamos o dia numa alegre roda de ciranda.
Uma boa semana a todos, com muito UAU! todos os dias!
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