quinta-feira, 19 de maio de 2011

6º encontro - Relato


No nosso 6º encontro, trabalhamos novos elementos técnicos de mímica, para reforçar e ampliar a consciência dos movimentos e dar novas possibilidades de relação com o próprio corpo. O poder de criar imagens e concretizar pensamentos e idéias com corpo é fascinante. Libera a imaginação e a criatividade, pois é possível criar novos mundos, novas relações com o espaço, quebrando limites e restrições. Essa sensação fica marcada no corpo pela experiência concreta de realizar a ação.

Começamos o encontro com a dinâmica em roda com bola. O jogo simples de jogar a bola para outro parceiro da roda ganhou novos elementos. Enquanto transcorre o jogo, uma bolinha de tênis deve ser passada de mão em mão em sentido horário e outra bolinha deve circular no sentido anti-horário. Agora a necessidade de concentração é mais exigida, ao mesmo tempo que a atenção deve ser ampliada para responder a estímulos que chegam a partir de várias direções. A conexão entre o grupo se fortalece.

A seguir realizamos o exercício em duplas de espelho. Após um momento fazendo o exercício básico, foi proposto que o espelho fosse realizado a partir da mímica, manipulando objetos imaginários. Dessa forma, podemos dar atenção ao estudo do gesto e também ganhar novos entendimentos a partir da lógica dos gestos do parceiro, que devem ser seguidos e espelhados com precisão. Também realizamos o espelho a partir da idéia de estátua, movimentando uma articulação somente por vez.

Na seqüência, realizamos um jogo em duplas, onde um parceiro deve realizar uma ação cotidiana ao mesmo tempo em que fala o que está fazendo: “Eu estou .... e você, o que está fazendo?” – Por exemplo: “eu estou escovando os dentes. E você o que está fazendo?” Logo em seguida o outro parceiro deve fazer o mesmo, passando a bola imediatamente para o companheiro, e assim sucessivamente. O objetivo é realizar o exercício de maneira bem dinâmica, sem dar tempo para parar e pensar. A pergunta serve para colocar pressão no parceiro e pode ser repetida diversas vezes caso ele não responda rapidamente. Dessa forma vamos experimentando dar expressão à primeira idéia, confiando no nosso poder de criatividade. Outra versão desse jogo é feita quando um parceiro fala a ação que está fazendo, porém é o outro parceiro que realiza essa ação com o corpo.

Após esses jogos, demos início à prática de elementos da mímica. A partir de um andar estilizado, chamado de 1º andar, começamos várias dinâmicas do gesto de EMPURRAR. O 1º andar é realizado com as pernas afastadas, alternando o peso do corpo que hora está sobre uma das pernas e hora está sobre a outra perna. Enquanto o peso está sobre a perna direita, seu calcanhar está levantado. Usamos todo o peso do corpo para abaixar o calcanhar e logo a seguir transferir o peso para a outra perna e reiniciar o processo do lado esquerdo. Depois de se acostumar com esse movimento, acrescentamos movimentos com braços e mãos de empurrar para as laterais, seguindo a direção em que está o peso do corpo. É importante imaginar que há uma resistência do ar nesse empurrar, que exige uma certa tensão e vibração do movimento do braço. Depois podemos variar as direções de empurrar: para baixo, para cima e cruzado na frente do corpo.

Empurrar e puxar um objeto imaginário é um grande estudo de movimento e consciência corporal. Onde apoiamos o peso do corpo? Que perna está esticada? Como estão os braços? Como agem os cotovelos? Para realizar esse estudo, primeiro treinamos na parede real, tentando empurrá-la. Aí estudamos como o nosso corpo realiza esse movimento. Podemos verificar que normalmente uma perna fica atrás e outra na frente. A perna de trás fica bem esticada e o pé todo fica apoiado no chão. A perna da frente fica dobrada e o calcanhar fica levantado.  O peso do corpo está totalmente apoiado na perna de trás. Depois desse estudo, tentamos realizar o mesmo movimento, agora sem contar com a parede real. Verificamos que, para dar a idéia clara de que há um peso a ser empurrado (imaginário) temos que nos colocar na mesma posição: perna esticada atrás e perna dobrada à frente com calcanhar levantado. Porém o peso do corpo se inverte. A perna da frente é que deve apoiar totalmente o peso do corpo. A perna de trás está livre, sem peso. É uma situação de equilíbrio precário, muito diferente do que estamos acostumados no cotidiano. Isso é que dá a imagem e a ilusão de força. Para o movimento de PUXAR é a mesma coisa, porém com as pernas ao contrário. A perna da frente está esticada com o pé apoiado no chão e a perna de trás dobra com o calcanhar levantado.

Para exercitar esses movimentos, brincamos de imaginar um piano e tentar arrastá-lo ou puxá-lo pelo espaço. Depois fizemos a brincadeira do cabo de guerra usando uma corda imaginária. Dois grupos, um de cada lado devem lutar para puxar o cabo de guerra. Os dois times devem coordenar os movimentos para manter a relação de distância da corda. O grupo de divertiu muito com esse jogo.

A seguir introduzimos o conceito clássico de mímica que é a parede imaginária. De novo, treinamos primeiro com a parede real, tocando-a de diversas formas para estudar o movimento de maneira detalhada. Como a mão toca a parede? Que parte toca primeiro? Como ficam os dedos? Que parte sai da parede primeiro? Como age o pulso? Qual a diferença de tônus? Depois treinamos sem a parede para concretizar a experiência. Descobrimos que é importante dar atenção a todos os pequenos detalhes que, no cotidiano, realizamos de maneira automática e passam desapercebidos.  

Para explorar todos esses novos elementos, reunimos a turma em vários grupos, de 3 a 4 integrantes, e pedimos para criar uma cena em que eles utilizassem essas dinâmicas e conceitos da mímica. Deve ser uma situação simples, algo cotidiano, que tenha começo, meio e fim. As cenas que surgiram foram muito interessantes e divertidas. Podemos observar como o corpo em movimento logo se coloca em fluxo criativo e as imagens brotam de maneira fértil. E a alegria toma conta de todos, contagiando e estimulando a participação de cada um. As cenas foram muito bem organizadas, estavam claras e limpas. Objetos surgiam e pareciam reais. Elevador, vassoura, corda, tijolos, ferramentas. Tudo isso criado a partir do nada, ou melhor, a partir do próprio corpo e sua potência de criação.

Esses conceitos da mímica – empurrar, puxar, o contato com a parede – além de serem uma dinâmica lúdica e um recurso expressivo valioso, também trazem a possibilidade de elaboração poética, coletiva, corporal e afetiva das nossas experiências de vida. O que empurramos pela vida? Como engajamos nosso corpo e nossa vida ao enfrentar os obstáculos? Como empenhamos em puxar e trazer o que queremos? Quais as paredes que se colocam no nosso caminho? Como nos relacionamos com elas? Ao experimentar isso concretamente no corpo, estamos mais aptos e fortalecidos para enfrentar também os obstáculos reais da nossa vida.

Após o intervalo, voltamos a realizar o exercício individual de improviso inspirado numa música. Fernanda e Silmara nos trouxeram uma expressão ampliada de alegria e festa. Ambas se jogaram inteiramente na proposta, sem pudor. O efeito dessa atitude foi contagiante em todo o grupo. Descobrimos novas facetas de cada uma. Fernanda trazia movimentos amplos, alegres e leves. Particularmente, seu movimento de girar era muito bonito e forte. Silmara brincou e se divertiu também, surpreendendo a todos. Ao final foi interessante o comentário da Angela, nossa fotógrafa, que estava filmando a cena. Ela disse que teve que olhar duas vezes para o visor da câmera e para a cena, pois, por um instante, pensou que era outra pessoa que estava fazendo o exercício.

Terminamos numa roda de ciranda, integrando a alegria de estar conectado no grupo.

Quando o corpo se põe em movimento e abraça a vida, e afirma o desejo, ele se amplia, se dilata e revela expressões inéditas. Ele cria realidade. Somos outra pessoa realmente. Descobrimos novas forças, novos talentos, novos pensamentos, novos afetos, novas possibilidades. A vida se recria. E isso é contagiante.

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