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segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Celebração, Festa, Vida

No sábado, dia 2 de julho, tivemos nossa celebração especial de encerramento do Projeto Corpo-Educação-Arte, com a apresentação da performance artística "Coração de Estudante" elaborada pelo grupo formando por professores e alunos de escolas públicas. Foi um dia extremamente especial. Aos poucos cada um foi chegando, carregando sua inquietação e ansiedade, aquelas de quem vai subir ao palco sem máscaras, exercitando a sinceridade do movimento e a alegria de se expressar em público. Foi tocante ver cada um se preparando, cuidando da roupa, da maquiagem, ajudando os companheiros a entrar na atmosfera poética que tanto cultivamos durante o processo. 


[veja o álbum completo clicando aqui Fotos da Performance Coração de Estudante.]

[Fotos com registro de todo o projeto estão na Galeria Projeto Corpo-Educação-Arte]







A equipe de apoio estava muito ativa e empenhada para acertar todas as questões técnicas e deixar nosso espaço perfeito para receber todos os integrantes da festa: Angela, Olívia, Allan, Kokimoto e Beto. Equipe de primeira!





Tudo preparado e chega nosso grande amigo Fuganti, a Mariana e o Arthos, nosso pequeno e ilustre convidado. A energia estava pulsante!
Houve então o início da performance. O grupo todo sempre em cena, vibrando e alimentando os companheiros. Cada um se apresentou, dizendo seu nome e de onde veio. A origem é tanto real quanto simbólica. Cada um vem de um universo singular e abre sua vida para o encontro. A seguir, houve a grande seqüência onde cada integrante do grupo dançou sua dança pessoal, expressando sua personalidade única e a experiência de corpo dilatado em movimento vital, sempre em contato e relação com os corpos presentes no espaço – dançarinos e público. O grupo todo também participou em cada dança, contaminado pela energia e pela alegria da cena. 

Marina e a energia do grupo by Silvana Abreu
Marina e a energia do grupo, a photo by Angela Sassine.

Adhê em performance by Silvana Abreu
Adhê em performance, a photo by by Angela Sassine.

Não foi apenas uma representação, mas uma vivência real e atual, um acontecimento preenchido com o espanto de poder ritualizar a vida e descobrir novas possibilidades de criação inédita do próprio corpo, aqui e agora, com a participação real de todos. O público atento foi contagiado e respondeu com emoção. Ao final, todos estavam unidos, plenos e vibrantes. A celebração se fez em festa!

Tenho certeza que cada um descobriu algo novo sobre si mesmo e sobre sua atuação no mundo e vai disseminar essa atitude na sua arte e no seu trabalho.



Eis a seqüência das danças e músicas do nosso ritual:
Davi                “Exagerado” com Cazuza
Daniele            “Oração ao Tempo” com Caetano Veloso
Silmara            “Bittersweet Symphony” com The Verve
Ana Luiza         “Morena, Menina Linda” com Mayra Andrade
Marina             “New York, New York” com Frank Sinatra 
Geralda            “Come On Eileen” com Dexys Midnight Runners
Ana Sylvia        “Canoa, Canoa” com Milton Nascimento
Jairo                “Camarada D´água” com O Teatro Mágico
Juliane             “Oxaguian” com vários artistas
Adhe                “Ajalé” com Inaicyra Falcão dos Santos
Sarita               “Samba e Leveza” com Lenine
Rebeca             “Clumsy” com Fergie
Marlene            “Lien Chi” 
Sabrina             “Concerto para Piano nº1 em Si bemol menor” de Tchaikovsky com Martha Argerich
Carla                “Oração” com a Banda Mais Bonita da Cidade
Leonardo          “Ponteio Acutilado” com Antônio Nóbrega


Após a apresentação, todos estavam tão tocados que ninguém queria ir embora. A festa reverberava e continuava. Então recebi um lindo presente-surpresa, um vídeo produzido totalmente pelos participantes da oficina, cheio de sensibilidade e delicadeza. Que bela surpresa! Voltei para casa sentindo o peito aquecido, com espaços amplos, cada vez mais certa de que o afeto, a atenção, o carinho e a vida em movimento são altamente revigorantes, potentes e contagiantes. 


AGRADECIMENTOS

Por fim, quero deixar registrado que contamos com o suporte e o carinho dos parceiros e da equipe de apoio, que vestiu a camisa e esteve empenhada para que tudo desse certo. Quero deixar aqui o agradecimento de todo coração a todos os que estiveram nessa jornada:

Luiz Fuganti e a Escola Nômade de Filosofia. Esse grande filósofo, amigo e provocador, abriu todo um novo campo de pensamento e vida na nossa arte, tornando possível a realização desse projeto de maneira muito potente, rica e alegre.

Luiz Fuganti, a photo by Angela Sassine.

Angela Sassine, que registrou de maneira sensível o processo em fotos e vídeos. Também, deu todo o suporte necessário para que estivéssemos tranqüilos durante o trabalho e ainda cuidou delicadamente dos quitutes saborosos que alimentaram todos os nossos encontros. Obrigada pela parceria!

 Angela Sassine, Silvana Abreu e Olívia Martins.

Olivia Martins, que mergulhou de cabeça no projeto, com seu entusiasmo feliz, dando assistência às aulas, ajudando nos bastidores, acompanhando e registrando o processo, e colaborando com sua experiência pedagógica como professora e artista. 


Patrícia Sampaio, que colaborou na assistência às aulas e, com seu vivo interesse por novas idéias sobre educação, trouxe um ótimo material de apoio para enriquecer nossos debates em aula e também o blog do projeto.

Mariana Leighton Pereira, que cuidadosamente organiza o material da Escola Nômade de Filosofia e registra todas as suas atividades. Os vídeos das palestras de filosofia foram produzidos e editados por ela.

Kokimoto Rocha, Jair Gabriel de Oliveira e Duarte Mariano, que, com gentileza e alegria, garantiram toda a estrutura técnica necessária para um trabalho tranqüilo e fluido.

Allan Silveira, que sempre ilumina nosso ambiente com os equipamentos de luz e com seu bom humor. 


Beto Sporkens, Daniel Klaussner e Douglas Monteiro, que cuidaram do registro e edição do vídeo final, vestindo a camisa e se empenhando com profissionalismo para que tudo estivesse perfeito.

Eliety Teixeira e Nina Knutson que cuidaram atenciosamente de toda organização da produção dentro da Oficina Cultural.

Valdir Rivaben, coordenador da Oficina Cultural Oswald de Andrade, que nos recebeu de braços abertos. Nossa primeira conversa sobre o projeto foi tão estimulante que me deixou muito empolgada e já apontava o sucesso dessa parceria. Não foi só um acordo de colaboração, foi um encontro de afinidades ideológicas e artísticas, preenchido de entusiasmo, como deve ser qualquer ação educativa. Muito obrigada!


Juliana Amaral, nossa ponte com o CEPIN da FUNARTE, que sempre esteve à disposição generosamente para todas as informações e questões relativas ao apoio ao nosso projeto.
Agradeço demais à FUNARTE que, através do Prêmio Interações Estéticas – Residências Artísticas em Pontos de Cultura, depositou grande confiança no nosso trabalho, fornecendo os recursos necessários para que ele fosse realizado com todo carinho e qualidade que a Educação merece.

E a todos os mestres, de ontem, de hoje e de amanhã, que inspiram paixão pela vida, pelo trabalho e pela educação e pela arte.



Por fim, o projeto está encerrado, mas continuaremos alimentando o blog com material que considerarmos relevante sobre o tema da Educação para a Potência. Comentários e contribuições serão sempre bem-vindos.

Muito obrigada a todos, boa vida e até breve!

Silvana Abreu

quinta-feira, 30 de junho de 2011

11º encontro - relato e fotos

No nosso 11º encontro tivemos uma reunião um tanto diferente. A começar pela sala de ensaio, que precisamos mudar por conta da dedetização da nossa sala regular de trabalho. O grupo mostrou novamente seu grau de integração combinando um lanche coletivo. Como muitos precisam vir de muito longe, em longas viagens, estavam desejando um lanche imediato e resolvemos antecipar nosso horário de “recreio” antes de começar os trabalhos. Aos quitutes que a Angela sempre nos presenteia com carinho, juntaram-se uma variedade colorida de doces e salgados maravilhosos. Foi uma bela alegria participar desse momento de descontração. A celebração dos bons encontros sempre acontece ao redor da mesa. Celebramos tudo que nos alimenta, corpo, pensamento e emoção. Nossa mandala de afetos se mostra consistente, alegre e integrada. 

 

Depois da comilança, nos empenhamos no trabalho. Fizemos uma roda de aquecimento para preparar os corpos para o trabalho criativo. Um trabalho mais suave dessa vez, já que a barriga estava trabalhando! Na roda, depois de aquecer as articulações e alongar os músculos, fizemos uma “troca de presentes”. Cada um deveria andar em direção à outra pessoa da roda e tocá-la em algum lugar do corpo, dando esse toque de presente. É um movimento sutil e delicado de confirmar o contato, a confiança e a integração.


Depois disso, trabalhamos no ensaio da nossa performance de encerramento do projeto. Ela será mais uma performance do que um espetáculo pronto e acabado, porque nossa intenção é celebrar a alegria dessa nossa vivência juntos, com diversão e entusiasmo, sem nos prendermos a roteiros fechados. Nosso objetivo desde o início foi o processo de consciência corporal e liberação do desejo e da alegria no movimento do corpo, um trabalho cuidadoso e íntimo de descobertas e redescobertas, de encontro consigo mesmo em novas relações de gestos e expressões. 

 
 


 A partir desse trabalho que vivemos juntos, a performance será a celebração dessas descobertas, e o grupo estará junto o tempo todo,  dançando essa mandala de afetos que se estabeleceu entre todos. E dentro dessa mandala haverá o momento singular para cada um expressar sua dança pessoal, uma dança sem regras, sem certo e errado, onde toda a vida é bem-vinda, com suas alegrias, inseguranças, medos, desejos, raiva, ansiedade, falta de jeito, ridículo, diversão e entusiasmo. 

 
 

 Nosso desejo é que o corpo abrace essa alegria de deixar a vida fluir em todas as suas cores e que, afirmando essa vida sem economias, ela possa transbordar, preencher o espaço e contagiar a todos que estiverem com a gente, provocando os outros corpos a dançarem também, no seu cotidiano, no seu trabalho, na sua vida. E, a partir desse contágio, dancemos abraçando o impossível, criando nova realidade, uma realidade da alegria, da potência e do desejo de vida plena. Esse é o nosso sonho de educação. Uma educação para o movimento, para a potência, para o vôo impossível.   

quarta-feira, 15 de junho de 2011

10º encontro - relato e fotos

No nosso 10° encontro, pudemos aprofundar a integração e confiança que já está estabelecida no grupo há algum tempo. Por isso, o aquecimento foi um pouco diferente. Demos uma atenção especial ao toque, feito de maneira suave e sensível. Nessa dinâmica, uma pessoa por vez se coloca deitada no chão, de barriga para cima, com pernas e braços esticados e relaxados. Os demais participantes colocam-se ao redor formando um círculo. No primeiro momento, todos vão fazer uma massagem suave no corpo dessa pessoa. Sugerimos que todos se preparem, concentrem-se e decidam juntos quando iniciar o toque, sem precisar de uma voz de comando. 

 

Após um breve momento dessa massagem, o grupo deve suspender pernas, braços e cabeça do parceiro, tendo o cuidado de apoiar os joelhos e cotovelos. A pessoa do centro deve relaxar e soltar o peso do corpo, confiando nos parceiros. Então o grupo vai criando movimentos com as pernas, braços e cabeça, de maneira suave e cuidadosa, dando atenção para criar movimentos novos, surpreendendo a pessoa que recebe, e evitando que ela resista e conduza o movimento. Enquanto isso acontece, a pessoa do centro deve contar uma história e falar sem parar. Não pode parar de falar. Ao final, todos devem pousar os membros do parceiro no solo com cuidado e finalizar com uma breve massagem. A pessoa que recebeu o trabalho deve então espreguiçar sem pressa, virar-se de lado e ir subindo devagar, cuidando para que a cabeça seja a última coisa a ficar ereta. Esse trabalho é interessante porque desafia o participante a entregar o peso do corpo com confiança e sem resistência. Às vezes, mesmo inconscientemente, há uma vontade de controlar e conduzir o movimento. A tarefa de contar uma história sem parar também desafia a pessoa a desconectar dessa vontade de controle para entrar no fluxo e confiar no acolhimento e no movimento do grupo. Como o grupo já se conhece há algum tempo, todos estavam bem mais relaxados e dispostos a participar com confiança e alegria. O toque pode ser um assunto delicado, mas também é assunto importante no processo educativo. Aprender a oferecer e receber um toque amistoso é um recurso importante para a saúde, para o bem-estar, para a sociabilidade, para a sensação de pertencimento ao grupo. Também é importante para ter a inteligência afetiva minimamente madura e saber quando um eventual toque pode ser dissimuladamente nocivo e agressivo. Para uma boa aula sobre educação e afetividade, sugiro o vídeo “Children Full of Life” (clique aqui).






A seguir fizemos uma dinâmica de andar pela sala estabelecendo encontros. A cada encontro, uma pessoa, depois a outra, oferecem ao parceiro uma pequena dança, uma seqüência de movimentos. Ao final se despedem e seguem o caminho para outros encontros. 


Depois disso, fizemos uma seqüência de experimentações para perceber como o corpo pode moldar nosso pensamento e atitudes. O exercício era caminhar pelo espaço projetando uma parte do corpo para a frente. Fizemos isso várias vezes, a cada vez projetando uma parte. Primeiro a testa. Anda-se com a testa alongada para a frente. Aos poucos procuramos perceber que tipo de sensação e de idéias sugere essa postura e esse andar. Aí inventamos um som para essa figura. Andamos e fazemos um som. A seguir verbalizamos que tipo de pensamentos essa figura teria. Começamos a falar em voz alta esses pensamentos. E então começamos a estabelecer encontros e diálogos entre esses “seres de testa para a frente”. Como é esse encontro? Qual é a dinâmica da relação? Ao fim, relaxamos e andamos normalmente. Aí discutimos em grupo que tipo de atitude essa figura transmite. 

 
Repetimos toda essa dinâmica para outras partes do corpo: nariz, queixo, peito, barriga, pélvis, joelhos, pés. A cada vez, fazemos a seqüência projetando uma parte do corpo, como se ela fosse a primeira parte a passar por uma porta. Quando projetamos a testa, pode aparecer uma sensação de teimosia, “cabeça dura”, nervoso, sério, preocupado, entre outras. Quando projetamos o nariz, a sensação que normalmente aparece é de bisbilhoteiro, xereta, interessado em saber de tudo, curioso, etc. Ao projetar o queixo, a atitude inspirada é de orgulho, arrogância, prepotência, despeito. Projetando o peito para a frente sentimos auto-confiança, às vezes exagerada, confronto, desafio, certa arrogância, etc.  Ao projetar a barriga, a sensação vem ligada à fome, preguiça, lentidão, sono, entre outras. Ao projetar a pélvis, a atitude assume conotação sexual, interesse em encontros, busca de parceiros, sedução, etc. Projetando os joelhos, a sensação é de “pisar em ovos”, cuidado, atenção, entre outras. Finalmente, ao projetar os pés, a atitude pode ser de descontração, “cuca fresca”, leveza, etc. É importante ressaltar que essas imagens listadas acima são apenas algumas das que podem aparecer, ou que são as mais comuns. Dependendo da pessoa, da história de vida e do nível de tensão muscular, essas imagens podem variar. Por exemplo: ao projetar os pés para a frente, se fizermos isso com muita tensão muscular, a sensação pode ser de atitude militar, autoridade e rigidez. Às vezes, ao assumir uma determinada postura, imediatamente lembramos de alguém ou algum personagem significativo, e então assumimos toda a configuração corporal dessa pessoa, chegando a imitá-la com detalhes, indo além de simplesmente colocar a atenção numa só parte do corpo.

Depois de experimentar essa dinâmica como um estudo de movimento, fizemos improvisos em duplas, para que organizar essas imagens em ação. Pedimos que duas pessoas por vez fossem ao palco para improvisar seus personagens. Um deveria projetar o peito para a frente, o outro o nariz. E assim, fomos criando duplas de personagens que se colocavam em situação e improvisavam uma história. Era visível a mudança de atitude ao se mudar a postura corporal. Criaram-se situações muito divertidas!




Depois do intervalo, voltamos a realizar o improviso individual com música. O participante deve trazer uma música que gosta e que toca sua emoção de maneira especial e, a partir daí, improvisar uma dança pessoal, tendo o grupo como platéia e testemunha. Tivemos a alegria de compartilhar momentos mágicos com o Jairo, que improvisou sobre a música “Camarada D´Água” do grupo Teatro Mágico. Foi muito tocante perceber a alegria e descoberta real de novas possibilidades acontecendo naquele exato momento no corpo do Jairo. Ele relatou ao final que não foi uma dança, foi um desabafo. É notável a diferença de atitude desse nosso companheiro. No início do trabalho ele era mais sério e reservado. Agora está muito mais relaxado, sorrindo frequentemente, e brincando com alegria com todos do grupo.


A seguir a Sarita dançou lindamente a música “Samba e Leveza”, do Lenine. Foi especial ver uma outra mulher surgindo ali, confiante e desenvolta, um pouco mais distante da timidez com que normalmente recebíamos a Sarita. Fechou a coreografia saindo com elegância.

Após isso, fizemos um improviso em grupos. Cada grupo deveria criar uma música e uma coreografia livremente. Houve uns 10 minutos para preparar e ensaiar. O resultado foi muito divertido para todos. Essa é mais uma dinâmica para reforçar a idéia de que não é preciso, necessariamente, seguir padrões de beleza. Cada um pode criar sua própria dança, aquela que faça sentido para seu pensamento e para a sua vida. Que lhe inspire alegria, liberdade, expansão e poesia. Isso sempre será contagiante.





Finalizamos o encontro com um presente da Ana Silvia, uma roda de Jongo. A dinâmica em roda é sempre especial para integração do grupo e é uma ótima opção para terminar nossa jornada do dia.  



Estávamos aquecidos e relaxados, apesar do frio que fazia lá fora. Já todos prontos para o último encontro com o Fuganti, um novo debate de idéias com a Escola Nômade de Filosofia.


Veja todas as fotos do dia clicando aqui. As fotos são de Angela Sassine.