terça-feira, 26 de abril de 2011

Texto: A afirmação plena do desejo na afirmação das potências do corpo

Onde está nosso desejo hoje? Até que ponto ele está de acordo com o que estamos realizando neste momento? Fazemos o que queremos? Queremos o que fazemos? Nosso corpo está impregnado de um fluxo de expressão livre que projeta prazer e entusiasmo em nossas ações?

O fato é que vivemos dentro de um sistema que não estimula a poética expressiva dos nossos corpos. E vivemos isso desde a primeira escola, com seus rituais padronizados de espaço e tempo, que acabam inibindo as expressões criativas, desestimulando-as ou taxando-as como inconvenientes. Fico pensando até que ponto a escola serve para formatar o aluno dentro de uma contenção física que vai muito além da boa convivência coletiva e extrapola numa formatação muito limitada de corpo e de pensamento. Todo mundo em fila. Sentados. De preferência calados. Padronizados. Tempos iguais. Espaços iguais. Respostas certas, iguais. Hierarquia forte. Quase nenhum estímulo à dança, às sensações físicas, à alegria, ao prazer da expressão global corpo/pensamento e suas potencialidades criativas inusitadas. Tudo isso é muito bom para formar seres obedientes, que aceitam facilmente rotinas padronizadas, ótimos para linhas de montagens produtivas, o tal mercado de trabalho, seres eficientes que esqueceram do seu corpo e já não sabem/sentem mais o fluxo do desejo que é o único caminho para uma atividade realmente estimulante e realizadora da potência de cada um.

Estamos metidos dentro de um sistema em que o corpo está totalmente submetido a gestos pré-programados, ligados a modelos, obedientes e mansos. Deixamos, sem perceber, que nosso corpo se encaixe numa estrutura fixa e muito restrita, que apequena nossa expressão e nosso desejo. E cada vez mais queremos menos, nos contentamos com menos, agimos menos, ficamos menores em força e energia. Aceitamos nosso lugar na engrenagem do mercado. Desligamos nossas emoções, que não servem a horários demarcados e planos de produtividade. Aceitamos nosso desejo como algo além do possível, do reino do impossível, longínquo e inalcançável. Os limites são os limites da conta bancária, da sobrevivência, do emprego a qualquer custo. Acima de tudo, precisamos sobreviver, depois, se der tempo, vamos satisfazer o que restou da vida. Mas aí já nem lembramos mais o que realmente, visceralmente queríamos antes de tudo começar. Aceitamos e nos contentamos em sofrer cinco dias por semana para passar outros dois tentando resgatar as migalhas do desejo por entre um corpo cansado e entregue ao desânimo. Então ligamos a TV e desistimos da vida, da intensidade, do vigor, da alegria. Daí para o psiquiatra é um pulo.

Mas a vida ainda flui e atravessa nossos corpos. Temos espaços extremamente amplos em nós para a dança poética das nossas intensidades. Elas não seguem rotas pré-determinadas e não se submetem a controle de projetos. Elas querem. Elas querem muito, e estão sempre em movimento de expansão, de projeção para o exterior, para a ampliação dos limites e para a criação de novos mundos. A afirmação das potências do nosso corpo leva-nos a respostas inusitadas e nunca a respostas padrões. O impossível não está tão perto. O corpo pode em nível muito mais intenso do que nos acostumamos a crer, amansados que fomos. Temos em nós monstros, demônios, poetas, loucos, aventureiros, infinitos mundos, e todos eles merecem expressão poética, como uma dança dos afetos em dinâmica sempre mutante, nunca regulada de fora.

E ligada a esse fluxo energético sempre está a alegria, o prazer e o entusiasmo. Eles são o termômetro e o sinal de que o corpo está na rota da sua expressão mais genuína. E essa rota é única para cada corpo. Não há como relacionar parâmetros. Cada corpo cria sua própria técnica de expressão e se lança nela. Ou assumimos nossa alegria sem pudor, acendemos um brilho no olhar com nossas palavras e gestos, ou aceitamos o desânimo, a apatia, a tristeza e a depressão.

Assumir a intensidade do desejo e do corpo é assumir nosso lugar no mundo. É fazer questão de ocupar todo o espaço que nos é de direito, sem abrir mão, sem recuar para ceder espaço ao outro, porque simplesmente não é preciso, o outro também tem amplo espaço que é seu e é irrevogável. Isso implica numa carga de afirmação que envolve também a expressão da agressividade. A vida em expansão tem vetores de agressividade que quebram barreiras e abrem canais para novos fluxos. Conter a agressividade gera sedimentação de violência. Agir com firmeza, agressividade e alegria gera o crescimento generalizado do corpo e do pensamento, estimulando o mesmo nos outros corpos, em relações fortificadas. Isso é vida e é criação.

No teatro, o ator precisa ampliar o alcance do seu corpo para ser visto e ouvido. Chamamos isso de "corpo dilatado", ou corpo extracotidiano. Tudo no corpo precisa estar desperto e ativado em sua energia máxima. Essa experiência pode ajudar a entender que o espaço que normalmente ocupamos no mundo é menor do que o espaço que realmente é nosso e que podemos e devemos ocupar, sob pena de deixá-lo vazio ou pior, ocupado por um jogo de poder perverso que utiliza a nossa energia vital contra nós mesmos e com o nosso consentimento. Entregamos nossa alegria e prazer em nome da tranqüilidade e da segurança. Porém a segurança não existe, é mera ilusão, espelhinho vendido a nós em troca da nossa vitalidade mais vicejante, a qual já não acreditamos mais ter, esquecemos completamente como se fosse um sonho ingênuo de criança.

Silvana Abreu

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Vídeo da Palestra "Educação para a Potência" com Luiz Fuganti

No dia 16 de abril tivemos nossa primeira palestra com o filósofo Luiz Fuganti, com o tema "Educação para a Potência". Veja abaixo o vídeo com a cobertura completa.

3º encontro - Relato


Este é o relato do terceiro encontro do Projeto Corpo-Educação-Arte, com alunos e professores de escolas públicas. Estamos tratando das questões da escola e da educação através de atividades corporais práticas, buscando a ação que fortaleça a vida pulsante, livre e criativa em cada corpo.

Como atividade de aquecimento, logo após um breve alongamento, fizemos um dinâmica livre acompanhada de música. Cada um pode se movimentar pelo espaço criando seqüências de movimentos próprias para despertar o corpo e prepará-lo para o trabalho criativo. É a sua dança pessoal. Recomendamos dar atenção para as articulações. Também é importante perceber a alegria e a diversão ao se movimentar. Aos poucos todos podem ir se deslocando pelo espaço e estabelecendo encontros e relações com os demais participantes.

Realizamos também o exercício de espelho em duplas, onde os parceiros frente a frente realizam movimentos como se estivessem na frente do espelho. Cada um comanda os gestos alternadamente, conforme a instrução do coordenador, que bate uma palma sinalizando a troca de comando. Essa é uma atividade que possibilita estudar o movimento do outro e se colocar no seu lugar, experimentado sua lógica de pensar com o corpo, seu ritmo, suas dinâmicas, sua respiração. Ao trocar de duplas, podemos experimentar todo um novo universo de modos de se movimentar. Isso gera empatia e compreensão mais profunda sobre a vida e a história de cada parceiro. Esse exercício foi progredindo para a experiência em grupos e finalmente para uma grande roda onde um comanda e os demais espelham. O coordenador dá o sinal para a troca de comando. Na grande roda, é visível o grau de sintonia do grupo e a intensificação de energia que acontece quando todos estão empenhados na mesma ação.

A seguir, realizamos uma breve revisão dos exercícios de base que introduzimos no encontro anterior, principalmente a atenção detalhada ao movimento do andar (decupagem do andar) e o “sentar do samurai”. A seguir, ativamos o andar buscando caminhar em direção a um foco bem definido, com atitude e firmeza, tendo consciência de como o seu contato com o chão pode ser uma alavanca essencial para abrir seu caminho em direção ao seu desejo, sem recuar ou desviar-se do foco.

Após dar a ênfase à importância da base, do enraizamento e da relação do corpo com a força da gravidade, passamos à próxima etapa, que é, confiante do seu espaço e da sua raiz nele, poder projetar-se com energia para o espaço à sua volta. Essa é a experiência que chamamos de “vetores”. Temos a gravidade que estabelece o “vetor para baixo”, mas que imediatamente define o seu oposto, o “vetor para cima”, que nos coloca em conexão com o teto, com o céu, com o projetar-se para o alto. Fizemos uma dinâmica para dar atenção detalhada à coluna. Em duplas, um parceiro dobra o corpo para a frente, matendo o peso sobre as pernas, os joelhos flexionados e deixando a cabeça solta para baixo. O outro parceiro, suavemente vai “caminhando” com dois dedos ao longo da coluna, de baixo para cima, colocando o foco na seqüência de vértebras da coluna. Quem está sendo trabalhado vai desenrolando a coluna, encaixando uma vértebra depois da outra, com calma, seguindo o caminho apontado pelo parceiro. A cabeça deve ficar sempre solta, o queixo grudado no peito e será a última a desenrolar. Dessa forma damos uma atenção detalhada para a coluna, as vértebras e o espaço entre elas. Ao voltar a postura ereta, o parceiro dá um estimulo “para cima” puxando um pequeno bloco de cabelos na parte mais alta da cabeça, para enfatizar o processo de alongar e crescer a coluna. Também é importante dar atenção à região da nuca, que também deve se ampliar na vertical e não se dobrar fechada para trás. O queixo permanece paralelo ao chão. A sensação é como se houvesse uma linha amarrada no topo da sua cabeça puxando seu corpo para o céu, como um marionete. Fazendo esse exercício, muitas vezes é possível visualizar um crescimento real na altura de algumas pessoas, que surge da percepção de poder alongar a coluna e abrir espaço entre as vértebras.
No pensamento, acontece a percepção de “eu posso ocupar o meu espaço e meu real tamanho”, uma atitude de autoconfiança para se expressar e dar sua opinião.

A seguir, realizamos exercícios para experimentar na prática os outros vetores de projeção no espaço. Um bem importante é o “vetor para frente”. Colocar em ação a intenção que te empurra em direção ao seu desejo. Uma atitude de prontidão e de disponibilidade de entrar em ação imediatamente, abrindo o seu caminho pelo espaço de maneira confiante, sem hesitar ou recuar. Como o cavalo de corrida que sairá em disparada assim que se abrir a porta da sua baia. Usando a consciência da base e do enraizamento, esse vetor se fortalece e o corpo ganha tônus, firmeza e atitude. Há um ganho de confiança e poder de superar os obstáculos do caminho. “Eu vou para lá, e se houver algum obstáculo, tenho confiança de que poderei lidar com ele e superá-lo”. Na prática, esse exercício revela como algumas pessoas têm essa experiência mais incorporada e outras demonstram hesitação, fazendo o corpo oscilar sutilmente para trás. Isso pode revelar também um “pensamento oscilante”, hesitante, indeciso. Experimentar fortalecer essa experiência no corpo também fortalece a firmeza de pensamento e estimula a autonomia de atitude.

Na seqüência, fizemos a mesma experiência com o “vetor para trás”, uma ampliação do gesto também no sentido contrário ao movimento, para dilatar seu espaço de abrangência. A sensação é de “deixar sua marca no espaço”, sua assinatura: “eu passei por aqui”. Também ajuda imaginar grandes asas nas costas ou um grande manto, que deixa rastro da sua passagem por aquele espaço. E também podemos imaginar vetores laterais, que projetam e ampliam nosso corpo para os lados.

Podemos imaginar e incorporar vetores para todas as direções. Acionando todos esses vetores, temos a experiência orgânica de dilatar, de ampliar nosso corpo. Somos mais amplos do que estamos acostumados a vivenciar no dia-a-dia. Nosso corpo (corpo-pensamento-emoção-intuição) pode ocupar mais espaço. Nosso desejo pode se expandir e dar sua essencial contribuição ao mundo.

A seguir, realizamos uma introdução a conceitos básicos da Mímica, técnica que nos possibilita criar imagens no espaço contando apenas com os recursos do nosso corpo. Podemos criar e manipular objetos, formas, dimensões e superfícies de maneira muito clara, sem precisar de nenhum objeto real. É um recurso lúdico que abre espaço infinito para imaginação criar imagens das mais inusitadas. É também um processo de estudo de movimento e de precisão de gestos. Para realizar uma simples ação de pegar um copo de água, precisamos pensar em cada mínimo movimento, de cada articulação, para que cada detalhe fique muito claro. É um desafio para estar presente e não se afobar pensando no que será feito depois. Trabalhamos os conceitos de espasmo (clique), tamanho, forma e peso, para começar a experimentar a criação de um objeto no espaço. Como pegamos um pedaço de papel? Como pegamos um copo que está sobre a mesa e o levamos para outra posição na mesa? E uma garrafa vazia? E uma garrafa cheia? E uma tigela? Como deixar claro seu tamanho, seu peso? Como eu uso tudo isso para criar a imagem de que estou na mesa tomando um café com leite? Como pego a xícara? Qual é a seqüência de gestos? Onde está cada objeto sobre a mesa? Todo esse estudo ativo de movimento estimula o pensamento no sentido de precisão e de clareza na expressão das nossas idéias.

Depois realizamos uma seqüência de improviso onde uma pessoa começa a contar uma história usando a mímica, sem falar, só usando os movimentos do corpo para criar imagens. Num dado momento a história é interrompida e outra pessoa do grupo deve dar continuidade à ação que está sendo narrada. É um exercício divertido que estimula a criatividade, já que não há limites para as imagens que podemos criar. Também é instigante a forma lúdica como as imagens ficam marcadas no espaço e podemos “visualizar” e compartilhar paredes, salas, escadas, ruas, ônibus, pessoas, escritório, carros, infinitos objetos que não existem no espaço, mas que para nós parecem reais.

Por fim, realizamos improviso individual com música. Pedimos que cada um trouxesse uma música que gostasse muito, que fosse emocionante de alguma forma. Tivemos tempo para dois improvisos individuais. Ana Sylvia trouxe uma música suave e melodiosa (Milton Nascimento) e fez movimentos com dinâmicas circulares que revelavam delicadeza e também uma forte emoção. Apesar de um breve nervosismo natural ao iniciar, seu corpo foi ficando mais confiante com os movimentos e a emoção pode fluir mas amplamente, criando uma poesia toda particular no espaço. 

Marina trouxe uma música festiva e alegre (New York, New York) e foi ousada ao expandir seu corpo pelo espaço, criando uma dança muito pessoal e divertida. Era muito evidente sua alegria e diversão ao brincar com o corpo, sem se apegar a convenções do que seria “uma boa dança”. Todos se contaminaram pela alegria.

Quando um corpo ousa se dilatar no espaço, se expressando de maneira firme e confiante, contagia os outros a fazerem o mesmo. Criamos uma corrente positiva de potência e multiplicidade criativa. Todos saem mais fortes.

3º encontro - Fotos

Fotos do nosso 3º encontro. Trabalhamos os vetores de projeção do corpo no espaço e conceitos básicos de mímica. As fotos são de Angela Sassine.
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quarta-feira, 13 de abril de 2011

Convite Palestra com Luiz Fuganti

Convidamos a todos os interessados para participarem dessa palestra com as provocações do nosso amigo e filósofo Luiz Fuganti, da Escola Nômade de Filosofia.
Palestras de Filosofia com Luiz Fuganti 
Tema: "Educação para a Potência"
dia 16 de abril - sábado, às 18h 
Entrada Gratuita (não é necessário fazer inscrição)

LOCAL
Oficina Cultural Oswald de Andrade
Rua Três Rios, 363 - Bom Retiro (próx metrô Tiradentes)
São Paulo/SP

2º Encontro - Relato


Este é o relato do segundo encontro do Projeto Corpo-Educação-Arte, com alunos e professores de escolas públicas. Estamos tratando das questões da escola e da educação através de atividades corporais práticas, buscando a ação que fortaleça a vida pulsante em cada corpo.

No nosso segundo encontro, o tema principal foi a base, ou seja, a relação do corpo com o chão e com a gravidade. Buscamos tomar consciência do apoio dos pés no chão e a partir dessa relação, ganhar equilíbrio e força para ocupar o espaço com confiança e atitude.

As primeiras atividades foram jogos de aquecimento e entrosamento, buscando reforçar o nome de cada membro do grupo. Saber o nome de cada um é importante para estabelecer imediatamente a diferença e a presença da individualidade. Cada um é importante no grupo e traz uma expressão singular preciosa que enriquece a todos.

Fizermos também o jogo de “passar a máscara” ou caretas entre os membros da roda, procurando desconstruir os gestos padronizados e brincar com o corpo criando formas diversas daquelas que usamos no cotidiano, que seriam taxadas de estranhas e ridículas. No cotidiano nos “conformamos” com regras de “bom comportamento” que podem tornar nossos movimentos restritos, acanhados e mecânicos. Experimentar sair das convenções dos gestos padronizados também estimula o pensamento a ir além das convenções e dos padrões, abrindo caminho para idéias e soluções criativas e inusitadas.

No exercício do Espelho, trabalhamos o estudo consciente do movimento e a observação dos gestos do parceiro. O meu corpo precisa estar alerta e atento para seguir o movimento do parceiro da maneira mais precisa. Como eu giro o braço? Pra que lado levo a minha perna? Dessa forma estabelece-se também uma empatia mais profunda. Ao experimentar o movimento do parceiro eu também posso entender um pouco mais sobre como ele pensa e se movimenta na vida. Corpo é Pensamento.

No trabalho com a base propriamente dito, procuramos deixar muito claro através da experiência prática, a força que podemos conquistar em nossa atitude a partir da consciência do contato com o chão. Primeiro estudamos detalhadamente como acontece o nosso andar cotidiano. Dividimos em partes o movimento do andar. O pé vai à frente e toca o chão, primeiro o calcanhar, depois o metatarso e, por último, os dedos. Na seqüência o pé que está atrás começa a levantar: primeiro o calcanhar, depois o metatarso, por último os dedos. Percebendo com atenção essa dinâmica, é possível ter consciência do contato do pé inteiro no chão e usá-lo a nosso favor. Existem pessoas que pisam no chão de maneira insegura, ou usando apenas as pontas dos pés. Seu contato com o mundo, com a realidade, está fragilizado. Usar toda a maior extensão da sola do pé durante o andar, sentido o contato firme com o chão, possibilita caminhar com firmeza, “abrir o ar” à sua frente com confiança e se projetar para o espaço com maior energia e vigor.

A seguir realizamos o exercício do “samurai”, que consiste em abaixar o centro de gravidade do corpo. Abrir bem as pernas, dobrar os joelhos e manter o tronco ereto. A imagem é de “sentar no cavalo”. O centro de gravidade localizado no abdome fica mais próximo ao chão e proporciona aumento de estabilidade e equilíbrio. Todo o corpo está “enraizado”. Nessa postura, adquirimos maior poder de ação, mais força e confiança. O guerreiro normalmente assume essa posição, que lhe dá atitude e prontidão. Nesse estado é muito mais difícil ele ser derrubado pelo inimigo. Tiramos nossa força do chão, da terra, e ocupamos o nosso espaço com energia. Ninguém vai ocupar nosso espaço sem a nossa permissão. Esse é um movimento em direção à afirmação da vida e da sua potência de estar no mundo. Não é necessário abrir mão do seu próprio lugar no mundo. Todos terão voz forte e ativa.
Depois do intervalo, realizamos uma dinâmica de contação de histórias em roda, onde um membro começa uma história e o próximo continua a contar de onde ele parou. É muito clara a multiplicidade da imaginação de cada um para criar imagens corporais das mais inusitadas e criativas. O movimento adquire brilho e alegria. Basta um pequeno estímulo para que a criatividade tome conta do espaço e todos estejam muito atentos e participativos, cada um do seu jeito próprio.

Na seqüência realizamos uma apresentação de improviso individual. Cada um deveria “entrar em cena”, dizer seu nome e fazer uma seqüência de movimentos que desejasse. Ao final, terminar a seqüência e sair de cena. Esse é um exercício simples, mas muito revelador dos talentos específicos de cada um. Como cada um se movimenta: com que ritmo, com que nível de tônus, com que abertura, em que dimensão do espaço - tudo isso revela a poesia de gestos que cada um pode realizar. Também notamos a alegria e o entusiasmo que brota no corpo quando ele encontra o meio de expressão que lhe faz mais sentido. Aqui não há regras e não há nada para acertar ou errar. O único parâmetro é a alegria que se estabelece ao expressar o desejo que flui pelo corpo.

Para terminar, formamos grupos para criar uma música e uma coreografia a partir do nome de cada membro do grupo. As apresentações desse exercício foram uma explosão de alegria e diversão.

Quando cada um enraíza seu corpo e afirma seu espaço, todos ficam mais potentes, mais produtivos, mais entusiasmados e mais felizes. Com certeza terão mais confiança para dar a sua contribuição singular para a sua comunidade.

2º Encontro - Fotos

Fotos do nosso 2º encontro. Trabalhamos a base, o contato com o chão e com a gravidade. Enraizar para ocupar o seu espaço com confiança!
As fotos são de Angela Sassine.
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quinta-feira, 7 de abril de 2011

Vídeo de Apresentação

Olá gente boa!
Neste link tem o vídeo com as falas de apresentação do primeiro encontro, com Silvana Abreu e Luiz Fuganti. Já são várias provocações e reflexões para a gente debater. Sinta-se à vontade para deixar seu comentário!

quarta-feira, 6 de abril de 2011

1º Encontro - Relato

Demos início à nossa jornada neste sábado com grande alegria. O espaço da Oficina Cultural Oswald de Andrade é perfeito, muito agradável e acolhedor. O grupo foi chegando de mansinho e ocupando o espaço. Havia a ansiedade normal de encontrar novos companheiros e novas relações. Logo foram ficando mais à vontade e começaram os primeiros contatos.

Fizemos uma roda para apresentar o projeto e a equipe. Falamos sobre o Prêmio Interações Estéticas – Residências Artísticas em Pontos de Cultura da FUNARTE e Ministério da Cultura, que possibilitou criarmos esse encontro com toda a estrutura necessária. Inclusive para mantermos esse blog com relatos de todo o movimento, abrindo espaço para outras participações externas.

Falamos sobre a Dramaturgia do Desejo, nossa prática de criação artística que tem sido desenvolvida há vários anos. Ela é um meio de expandir e investir as forças criativas através do corpo em movimento no espaço. O corpo gerando seu próprio fluxo, encontrando seu sentido próprio de estar nas relações, que é único para cada ser. O corpo encontrando sua potência, sua força vital, sua lógica afetiva. No movimento ele encontra respostas novas, sempre inusitadas, inéditas e criativas.

Relatei minha trajetória profissional. Após cursar a escola convencional, estudei computação e trabalhei sete anos como analista de sistemas. Muito depois é que fui abrindo caminho para encontrar meu espaço na arte e no teatro. Comecei no teatro tardiamente, com 27 anos. Na escola não havia grande espaço para a expressão criativa, para enxergar em mim as possibilidades da arte no meu corpo. Havia a prática pragmática de formar seres eficientes para passar no vestibular e entrar no mercado de trabalho. Essa trajetória me faz desejar abrir espaço para refletir e debater a educação de uma maneira diferente, na prática, em movimento. É o que faremos nesse período juntos.

Depois de sair da escola, encontrei meus verdadeiros mestres artísticos, que foram essenciais para chegar nesse momento de maturidade da Dramaturgia do Desejo. Flavia Pucci, Denise Stoklos, Luis Louis, Luiz Fuganti, Gianni Ratto, Edmundo Barbosa, Jürgen Christian. Todos eles me possibilitaram encontrar matéria riquíssima para acreditar e sustentar sempre e sempre que a vida é potência criativa de absurda grandeza, que somos capazes de criar além dos limites do possível.

Luiz Fuganti é nosso “mentor” filosófico. Criador desse movimento intensivo que é a Escola Nômade de Filosofia, ele agora está ao nosso lado como parceiro neste projeto. A Dramaturgia do Desejo está totalmente impregnada com o pensamento que ele nos traz, um caldeirão fervilhante que cozinha a obra de Nietzsche, Spinoza, Deleuze, Bergson, Foucault e tantos outros pensadores e nos entrega de forma provocadora e totalmente afirmativa.

Ele esteve com a gente neste primeiro encontro e, em sua fala de abertura, já lançou as primeiras provocações dando uma introdução panorâmica sobre a Filosofia da Diferença e sua relação com o processo educativo. Falou sobre a busca de formação, de capacitação, de acúmulo de aquisições técnicas, em contraste com a educação para a potência, que nos coloca em contato imediato com o nosso desejo e nossa capacidade de criar sentido, de criar realidade. Nas palestras mensais entraremos em mais detalhes sobre o pensamento nômade voltado para a educação.
A seguir já entramos na nossa atividade prática, com jogos iniciais de integração para todos se sentirem bem-vindos e integrados ao grupo. Depois realizamos exercícios de relação entre os membros do grupo, utilizando o gesto como potência de comunicação, trabalhando sem usar o discurso falado. Formando duplas, foi solicitado que cada um se apresentasse ao seu parceiro utilizando uma seqüência de movimentos que ilustrasse “quem é você”, sem usar a fala. O parceiro observa bem tudo o que ele vê, o que sente, o que percebe na movimentação do seu companheiro.  Na seqüência realizamos uma jornada de aquecimento e ativação do movimento, começando do chão com gestos mínimos, até preencher todo o espaço com uma dança pessoal espontânea. O tema dessa jornada era “eu ocupo o meu espaço”. Todos estavam muito empenhados e a energia na sala estava bem alta! A seguir foi solicitado que as duplas voltassem a repetir o exercício de apresentação por movimentos, observando as diferenças em relação à primeira execução. As observações foram diversas: “estava mais leve”, “mais aberto”, “mais vibrante”, “mais pulsante”, “mais livre”, “mais presente”, “menos contido”, “mais expressivo”. Ou seja, depois de colocar o corpo em movimento, todos se sentiam mais vivos e mais criativos e mais em contato com as necessidades do seu corpo. O pensamento segue esse processo e se torna mais fértil, mais instigado, mais curioso.

Corpo rígido, pensamento rígido. Corpo articulado, pensamento articulado. Corpo apertado, pensamento apertado. Corpo mole, pensamento mole. Corpo fraco, pensamento fraco. Corpo flexível, pensamento flexível. Corpo em movimento, pensamento em movimento.

Para finalizar, realizamos um exercício simples de cada um, individualmente, atravessar toda a sala de corpo e braços bem abertos, ocupando seu espaço com firmeza e alegria. É impressionante ver a beleza de cada corpo ocupando o seu espaço sem medo, irradiando sua presença para todos. Isso contagia a todos e estimula cada um a se sentir forte para fazer o mesmo, ou seja, OCUPAR O SEU ESPAÇO, sem impor e sem se retirar, sem ser ditador nem coitadinho. Apenas ocupar o lugar que é naturalmente seu neste mundo, sem abrir mão dele. Dessa forma evita-se os jogos de poder que querem tomar nossa energia vital e usá-la contra nós, e com o nosso consentimento. Tomar posse do corpo, do seu desejo de vida intensa e alegre, nos torna livres para criar nossa própria poesia, em qualquer atividade que estivermos realizando. Somos todos artistas.

1º Encontro - Fotos

Fotos do nosso 1º encontro. A  turma está maravilhosa! 
As fotos são de Angela Sassine.
Veja todo o álbum de fotos clicando aqui