Demos início à nossa jornada neste sábado com grande alegria. O espaço da Oficina Cultural Oswald de Andrade é perfeito, muito agradável e acolhedor. O grupo foi chegando de mansinho e ocupando o espaço. Havia a ansiedade normal de encontrar novos companheiros e novas relações. Logo foram ficando mais à vontade e começaram os primeiros contatos.
Fizemos uma roda para apresentar o projeto e a equipe. Falamos sobre o Prêmio Interações Estéticas – Residências Artísticas em Pontos de Cultura da FUNARTE e Ministério da Cultura, que possibilitou criarmos esse encontro com toda a estrutura necessária. Inclusive para mantermos esse blog com relatos de todo o movimento, abrindo espaço para outras participações externas.
Falamos sobre a Dramaturgia do Desejo, nossa prática de criação artística que tem sido desenvolvida há vários anos. Ela é um meio de expandir e investir as forças criativas através do corpo em movimento no espaço. O corpo gerando seu próprio fluxo, encontrando seu sentido próprio de estar nas relações, que é único para cada ser. O corpo encontrando sua potência, sua força vital, sua lógica afetiva. No movimento ele encontra respostas novas, sempre inusitadas, inéditas e criativas.
Relatei minha trajetória profissional. Após cursar a escola convencional, estudei computação e trabalhei sete anos como analista de sistemas. Muito depois é que fui abrindo caminho para encontrar meu espaço na arte e no teatro. Comecei no teatro tardiamente, com 27 anos. Na escola não havia grande espaço para a expressão criativa, para enxergar em mim as possibilidades da arte no meu corpo. Havia a prática pragmática de formar seres eficientes para passar no vestibular e entrar no mercado de trabalho. Essa trajetória me faz desejar abrir espaço para refletir e debater a educação de uma maneira diferente, na prática, em movimento. É o que faremos nesse período juntos.
Depois de sair da escola, encontrei meus verdadeiros mestres artísticos, que foram essenciais para chegar nesse momento de maturidade da Dramaturgia do Desejo. Flavia Pucci, Denise Stoklos, Luis Louis, Luiz Fuganti, Gianni Ratto, Edmundo Barbosa, Jürgen Christian. Todos eles me possibilitaram encontrar matéria riquíssima para acreditar e sustentar sempre e sempre que a vida é potência criativa de absurda grandeza, que somos capazes de criar além dos limites do possível.
Luiz Fuganti é nosso “mentor” filosófico. Criador desse movimento intensivo que é a Escola Nômade de Filosofia, ele agora está ao nosso lado como parceiro neste projeto. A Dramaturgia do Desejo está totalmente impregnada com o pensamento que ele nos traz, um caldeirão fervilhante que cozinha a obra de Nietzsche, Spinoza, Deleuze, Bergson, Foucault e tantos outros pensadores e nos entrega de forma provocadora e totalmente afirmativa.
Ele esteve com a gente neste primeiro encontro e, em sua fala de abertura, já lançou as primeiras provocações dando uma introdução panorâmica sobre a Filosofia da Diferença e sua relação com o processo educativo. Falou sobre a busca de formação, de capacitação, de acúmulo de aquisições técnicas, em contraste com a educação para a potência, que nos coloca em contato imediato com o nosso desejo e nossa capacidade de criar sentido, de criar realidade. Nas palestras mensais entraremos em mais detalhes sobre o pensamento nômade voltado para a educação.
A seguir já entramos na nossa atividade prática, com jogos iniciais de integração para todos se sentirem bem-vindos e integrados ao grupo. Depois realizamos exercícios de relação entre os membros do grupo, utilizando o gesto como potência de comunicação, trabalhando sem usar o discurso falado. Formando duplas, foi solicitado que cada um se apresentasse ao seu parceiro utilizando uma seqüência de movimentos que ilustrasse “quem é você”, sem usar a fala. O parceiro observa bem tudo o que ele vê, o que sente, o que percebe na movimentação do seu companheiro. Na seqüência realizamos uma jornada de aquecimento e ativação do movimento, começando do chão com gestos mínimos, até preencher todo o espaço com uma dança pessoal espontânea. O tema dessa jornada era “eu ocupo o meu espaço”. Todos estavam muito empenhados e a energia na sala estava bem alta! A seguir foi solicitado que as duplas voltassem a repetir o exercício de apresentação por movimentos, observando as diferenças em relação à primeira execução. As observações foram diversas: “estava mais leve”, “mais aberto”, “mais vibrante”, “mais pulsante”, “mais livre”, “mais presente”, “menos contido”, “mais expressivo”. Ou seja, depois de colocar o corpo em movimento, todos se sentiam mais vivos e mais criativos e mais em contato com as necessidades do seu corpo. O pensamento segue esse processo e se torna mais fértil, mais instigado, mais curioso.
Corpo rígido, pensamento rígido. Corpo articulado, pensamento articulado. Corpo apertado, pensamento apertado. Corpo mole, pensamento mole. Corpo fraco, pensamento fraco. Corpo flexível, pensamento flexível. Corpo em movimento, pensamento em movimento.
Para finalizar, realizamos um exercício simples de cada um, individualmente, atravessar toda a sala de corpo e braços bem abertos, ocupando seu espaço com firmeza e alegria. É impressionante ver a beleza de cada corpo ocupando o seu espaço sem medo, irradiando sua presença para todos. Isso contagia a todos e estimula cada um a se sentir forte para fazer o mesmo, ou seja, OCUPAR O SEU ESPAÇO, sem impor e sem se retirar, sem ser ditador nem coitadinho. Apenas ocupar o lugar que é naturalmente seu neste mundo, sem abrir mão dele. Dessa forma evita-se os jogos de poder que querem tomar nossa energia vital e usá-la contra nós, e com o nosso consentimento. Tomar posse do corpo, do seu desejo de vida intensa e alegre, nos torna livres para criar nossa própria poesia, em qualquer atividade que estivermos realizando. Somos todos artistas.
Adorei seu blog!!!
ResponderExcluirPassei aqui par aconvidar você para conhecer meu blog.
Quando puder passe por lá, vai ser prazer ter sua companhia.
bjs
www.tatidesignercake.blogpsot.com
Maravilha de experiência, abriu meu coração para a vida, o amor. Fiquei tão comovida que chorei o domingo inteiro de pura emoção. Me senti plena como há muito eu não sentia. Todo o tempo eu pensava: estou no lugar certo e no momento certo. Muito obrigada, Silvana, por me proporcionar essa vivência!
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