quarta-feira, 13 de abril de 2011

2º Encontro - Relato


Este é o relato do segundo encontro do Projeto Corpo-Educação-Arte, com alunos e professores de escolas públicas. Estamos tratando das questões da escola e da educação através de atividades corporais práticas, buscando a ação que fortaleça a vida pulsante em cada corpo.

No nosso segundo encontro, o tema principal foi a base, ou seja, a relação do corpo com o chão e com a gravidade. Buscamos tomar consciência do apoio dos pés no chão e a partir dessa relação, ganhar equilíbrio e força para ocupar o espaço com confiança e atitude.

As primeiras atividades foram jogos de aquecimento e entrosamento, buscando reforçar o nome de cada membro do grupo. Saber o nome de cada um é importante para estabelecer imediatamente a diferença e a presença da individualidade. Cada um é importante no grupo e traz uma expressão singular preciosa que enriquece a todos.

Fizermos também o jogo de “passar a máscara” ou caretas entre os membros da roda, procurando desconstruir os gestos padronizados e brincar com o corpo criando formas diversas daquelas que usamos no cotidiano, que seriam taxadas de estranhas e ridículas. No cotidiano nos “conformamos” com regras de “bom comportamento” que podem tornar nossos movimentos restritos, acanhados e mecânicos. Experimentar sair das convenções dos gestos padronizados também estimula o pensamento a ir além das convenções e dos padrões, abrindo caminho para idéias e soluções criativas e inusitadas.

No exercício do Espelho, trabalhamos o estudo consciente do movimento e a observação dos gestos do parceiro. O meu corpo precisa estar alerta e atento para seguir o movimento do parceiro da maneira mais precisa. Como eu giro o braço? Pra que lado levo a minha perna? Dessa forma estabelece-se também uma empatia mais profunda. Ao experimentar o movimento do parceiro eu também posso entender um pouco mais sobre como ele pensa e se movimenta na vida. Corpo é Pensamento.

No trabalho com a base propriamente dito, procuramos deixar muito claro através da experiência prática, a força que podemos conquistar em nossa atitude a partir da consciência do contato com o chão. Primeiro estudamos detalhadamente como acontece o nosso andar cotidiano. Dividimos em partes o movimento do andar. O pé vai à frente e toca o chão, primeiro o calcanhar, depois o metatarso e, por último, os dedos. Na seqüência o pé que está atrás começa a levantar: primeiro o calcanhar, depois o metatarso, por último os dedos. Percebendo com atenção essa dinâmica, é possível ter consciência do contato do pé inteiro no chão e usá-lo a nosso favor. Existem pessoas que pisam no chão de maneira insegura, ou usando apenas as pontas dos pés. Seu contato com o mundo, com a realidade, está fragilizado. Usar toda a maior extensão da sola do pé durante o andar, sentido o contato firme com o chão, possibilita caminhar com firmeza, “abrir o ar” à sua frente com confiança e se projetar para o espaço com maior energia e vigor.

A seguir realizamos o exercício do “samurai”, que consiste em abaixar o centro de gravidade do corpo. Abrir bem as pernas, dobrar os joelhos e manter o tronco ereto. A imagem é de “sentar no cavalo”. O centro de gravidade localizado no abdome fica mais próximo ao chão e proporciona aumento de estabilidade e equilíbrio. Todo o corpo está “enraizado”. Nessa postura, adquirimos maior poder de ação, mais força e confiança. O guerreiro normalmente assume essa posição, que lhe dá atitude e prontidão. Nesse estado é muito mais difícil ele ser derrubado pelo inimigo. Tiramos nossa força do chão, da terra, e ocupamos o nosso espaço com energia. Ninguém vai ocupar nosso espaço sem a nossa permissão. Esse é um movimento em direção à afirmação da vida e da sua potência de estar no mundo. Não é necessário abrir mão do seu próprio lugar no mundo. Todos terão voz forte e ativa.
Depois do intervalo, realizamos uma dinâmica de contação de histórias em roda, onde um membro começa uma história e o próximo continua a contar de onde ele parou. É muito clara a multiplicidade da imaginação de cada um para criar imagens corporais das mais inusitadas e criativas. O movimento adquire brilho e alegria. Basta um pequeno estímulo para que a criatividade tome conta do espaço e todos estejam muito atentos e participativos, cada um do seu jeito próprio.

Na seqüência realizamos uma apresentação de improviso individual. Cada um deveria “entrar em cena”, dizer seu nome e fazer uma seqüência de movimentos que desejasse. Ao final, terminar a seqüência e sair de cena. Esse é um exercício simples, mas muito revelador dos talentos específicos de cada um. Como cada um se movimenta: com que ritmo, com que nível de tônus, com que abertura, em que dimensão do espaço - tudo isso revela a poesia de gestos que cada um pode realizar. Também notamos a alegria e o entusiasmo que brota no corpo quando ele encontra o meio de expressão que lhe faz mais sentido. Aqui não há regras e não há nada para acertar ou errar. O único parâmetro é a alegria que se estabelece ao expressar o desejo que flui pelo corpo.

Para terminar, formamos grupos para criar uma música e uma coreografia a partir do nome de cada membro do grupo. As apresentações desse exercício foram uma explosão de alegria e diversão.

Quando cada um enraíza seu corpo e afirma seu espaço, todos ficam mais potentes, mais produtivos, mais entusiasmados e mais felizes. Com certeza terão mais confiança para dar a sua contribuição singular para a sua comunidade.

Um comentário:

  1. Vivencie uma alegria enorme e saí de lá com vontade de dançar! Essa energia perdura por toda a semana. A proposta da Silvana é realmente libertadora! Não é apenas uma aula de teatro, já fiz várias dessas e são muito boas, mas a proposta de resgatar o nosso lugar no mundo é mais profunda!

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