quarta-feira, 4 de maio de 2011

4º encontro - Relato


No nosso 4º encontro, o grupo já apresenta um entrosamento bem mais profundo. Todos estão visivelmente mais relaxados e à vontade para se experimentarem nos exercícios, inclusive para se divertirem muito, minimizando possíveis autocríticas e inibições. 

Demos início ao trabalho com aquecimento livre estimulado por música. Cada um, bem devagar e delicadamente, vai colocando o corpo em movimento e despertando as partes ainda adormecidas. Aos poucos o movimento ganha intensidade e cada um vai desenvolvendo uma dança pessoal, realizando os gestos que façam mais sentido para as necessidades do seu corpo no aqui e agora. No auge desse trabalho, podemos nos deslocar pelo espaço e expandir nossa expressão pela sala, estabelecendo encontros entre os participantes que, juntos, inventam uma dança única e singular.

Depois desse aquecimento, fizemos a dinâmica de roda para reforçar a memória do nome de cada um. A seguir realizamos um jogo simples de coordenação motora. Em duplas, frente a frente, os parceiros devem bater as mãos criando uma seqüência: mão direita bate em cima, esquerda embaixo, direita embaixo, esquerda em cima e, para finalizar, as duas mãos juntas em cima. Depois de entender bem essa seqüência, tentar realizá-la o mais rápido possível. Depois, para dinamizar ainda mais, antes de bater as mãos juntas no final, os parceiros devem dar um giro com o corpo todo. É um exercício que estimula a coordenação motora, a atenção no presente, consciência e controle dos movimentos e  entrosamento e colaboração com o parceiro.

A seguir realizamos em duplas um exercício de fluência, onde um parceiro permanece em pé, com os pés bem enraizados, e deixa o corpo solto e leve. O outro parceiro dá pequenos toques empurrando certas partes do corpo: rosto, ombro, quadril ou joelho. Ao receber esse toque, a pessoa deve deixar o corpo seguir o caminho do movimento da forma mais leve, solta e fluída o possível, deixando que aconteça naturalmente. Os pés estão sempre firmes no mesmo lugar.  A cabeça fica solta e acompanha o movimento global. Depois volta-se suavemente à posição inicial ereta. Tudo é muito suave e fluído. Só após voltar à posição inicial o parceiro pode dar o próximo toque. A intenção é experimentar essa qualidade de movimento contínuo, sem bloqueios e sem retração. É um movimento que está presente em toda a natureza, como quando o vento bate na árvore e galhos e folhas realizam esse trajeto de ir e vir em forma de onda. Também o movimento da água do mar tem essa qualidade. E ela também está presente em nosso corpo, faz parte da nossa natureza. Mas pode ser restringida e bloqueada por tensões e inibições, que diminuem nossa capacidade de movimento de maneira crônica. Nossa vida e nosso pensamento então ficam também restritos e truncados.

Para aprofundar essa experiência, pedimos para que todos escolhessem um lugar no espaço e ficassem em pé, enraizados, de olhos fechados. Ao som de uma música apropriada, pedimos para cada um se imaginasse como estando no fundo do mar, tendo seu corpo solto, porém enraizado, sendo afetado pelo movimento das águas (a música). A idéia é deixar o corpo leve, entregue, para aceitar ser “levado” pelo movimento do ambiente e experimentar essa fluência de movimentos arredondados e suaves. É uma experiência de confiar no ambiente, confiar na vida e se deixar ser afetado, sem idéias ou projetos pré-concebidos. Nesse momento é possível identificar tensões, bloqueios e necessidade de controle que endurecem os movimentos. Movimentos soltos são naturalmente graciosos e harmônicos. Aceito os fluxos da vida e me deixo afetar sem medo. Eu surfo nas ondas da vida com confiança, sem querer “dirigir” a onda.

Na seqüência, realizamos um estudo concentrado das articulações com o exercício da estátua. Em duplas, uma pessoa é a estátua e o outro é o escultor. A estátua tem um tônus firme e oferece alguma resistência. O escultor deve movimentar a estátua para formar a imagem que ele desejar. A estátua só pode movimentar UMA ARTICULAÇÃO POR VEZ. O escultor, inicialmente, só pode usar um dedo, de uma só mão, para direcionar os movimentos. Ele toca e empurra especificamente e pontualmente a parte que desejar movimentar. Ao final analisa a imagem formada e as outras imagens que se construíram no grupo. Em nova rodada, o escultor pode usar dois dedos, um de cada mão, para definir melhor qual é a articulação que ele desejar movimentar, pois usando um só dedo, não é possível deixar claro qual articulação ele está focando. Com dois dedos, ele pode apontar as duas laterais da articulação e então deixar claro o movimento que deseja. Na terceira rodada o escultor pode usar as duas mãos livremente, para ter maior domínio do movimento que desejar efetuar: seu começo e fim. Na última rodada, a estátua se movimenta sozinha, o escultor só observa. Continua valendo a regra: movimentar só uma articulação por vez.

Essa experiência revela a consciência das nossas articulações e as sua possibilidades de movimento. Quantas articulações temos nos braços? E nas mãos? E nas pernas? E no tronco? Na cabeça? Como eu movimento apenas uma por vez, sem mexer mais nenhuma parte do corpo? A atenção sobre o próprio corpo adquire uma qualidade especial. É um verdadeiro estudo e descoberta de novas possibilidades do nosso corpo. E também é um exercício de concentração, para poder realizar uma coisa de cada vez, sem pular etapas, sem ansiedade, com calma e com muita clareza. E novamente, seguindo a nossa filosofia, corpo articulado implica em pensamento articulado. Pensamento confuso normalmente está associado a movimentos confusos e imprecisos. A limpeza e precisão de movimentos nos trazem para o aqui e agora, para o presente, sem ansiedades, deixando nossa expressão também clara e precisa.

A seguir fizemos uma breve revisão dos conceitos básicos de mímica, que possibilitam a criação de imagens no espaço usando apenas nosso próprio corpo. Como definir formato, volume e peso de um objeto que não existe realmente? Como se divertir e brincar com isso? Como deixar a imagem clara e precisa? É importante também aqui a concentração em realizar um movimento por vez, sem ansiedade, para deixar tudo limpo e preciso, e assim comunicar claramente a imagem desejada. É um estudo detalhado dos gestos cotidianos que fazemos normalmente de maneira automática. Com pego um copo? Como abro uma garrafa? Como seguro uma bola? É importante também deixar bem claro o começo e o final do movimento, para só depois iniciar o próximo. Fizemos o exercício do “café da manhã”, onde grupos de 4 ou 5 pessoas representam um grupo sentado em volta de uma mesa para tomar um café da manhã, imaginando e manipulando vários objetos: xícara, bule, garrafa de café, pote de açúcar, pão, manteiga, geléia, etc. É um ótimo exercício que exige imaginação, concentração, clareza e foco.

Depois disso, foi solicitado que cada um imaginasse dois objetos e fizesse uma micro-cena utilizando esses dois objetos, com o máximo de detalhes. Os companheiros assistem e comentam se a imagem estava clara.

A seguir realizamos um improviso onde os grupos, de 4 ou 5 pessoas, deveriam criar uma história com começo, meio e fim, utilizando apenas movimentos, sem falas. Havia um tempo de 15 minutos para ensaiar e durante esse tempo o grupo também não poderia falar nada. Tudo deveria ser combinado apenas através de gestos e movimentos. Ao final, cada grupo apresentou sua cena. Essa dinâmica é reveladora de como o corpo em movimento é necessariamente criativo. Quando o grupo fica preocupado em “se entender” e trava o corpo de alguma forma, a cena demora mais para ser criada. Quando o grupo se joga na brincadeira, colocando o corpo em movimento, o que acontece é um grande prazer de criar. Todos viram crianças. É visível também como a aceitação do jogo e a ausência de crítica ajuda a criatividade geral. Alguém se coloca em movimento e os outros membros do grupo logo aceitam, mesmo sem saber muito bem do que se trata, sem “entender” tudo, e o jogo vai se construindo e tomando forma de maneiras as mais inusitadas. Uma aceitação leva a novas idéias e novas aceitações. O foco se instala no prazer e na alegria. O que não era “tão bom” naturalmente se dissolve sem que lhe fosse dado a atenção de um “erro”.

Na nossa filosofia de afirmação do desejo, o farol é sempre o prazer e a alegria. Sem medo de errar, o erro pode também tornar-se diversão. Dessa maneira, amplia-se as possibilidades de respostas e idéias inéditas e criativas, que certamente serão benéficas para todos.

Um comentário:

  1. MARLENE
    A cada encontro me liberto de paradigmas que impedem meu crescimento,estou fascinada ao descobrir a grande potência que SOU e o que o meu corpo pode fazer.Todos os movimentos me levam onde eu quiser sem medo.estou me sentindo mais segura ,enraizada,ocupando um lugar no espaço que é só meu,apropriando do meu corpo e usufruindo tudo de bom que ele pode me dar.ESTOU RENASCENDO! Muito obrigada pela oportunidade.

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